Olá Ricardo Monteiro!
Sei que também tens o teu blog, por isso deves saber o gosto
que é escrevermos sobre algo que nos fascina.
No meu caso é o desporto rei e nesse, para mim, foste
senhor. Por isso, sê bem-vindo a este espaço da minha rubrica.
Senta-te, pega numa chávena de café ou de chá (a bebida
quente parece-me algo preferível nestes dias de outono). Descontrai e disfruta.
Espero que gostes!
Tarantini, de seu nome Ricardo Monteiro, nascido em Gestaçô,
Baião, deu os seus primeiros passos como sénior no Covilhã, passando depois por
Gondomar e Portimonense, até chegar ao seu novo lar, Vila do Conde.
Na terra nortenha, junto de outros tantos vilacondenses,
adeptos rijos do seu Rio Ave, clube que representa a garra e tradições
pesqueiras, Tarantini fez-se senhor. São 11 épocas, 381 jogos, 35 golos e 20
assistências. Se há longevidade como esta, mostrem-me!
A cada ano que passa, é pedra fulcral. Assenta em qualquer
sistema, colocando-se no meio-campo da equipa vilacondense, tanto a 8, como a 6
ou a 10. Pessoalmente, gosto de vê-lo atuar à frente da defesa. É daqueles
“trincos”, hoje em dia “pivots”, que não pede mais ninguém a seu lado. Tem a liberdade
para chegar ao lado esquerdo ou lado direito para equilibrar a equipa, sem a
preocupação de sobrepor a posição do colega. Certamente que nunca o fez porque
demonstra muita inteligência em campo, mas precisa desse “ser livre”. Há
jogadores assim…
Dele não devem esperar o corte mais bonito, o carrinho
artístico ou a entrada mais dura para pôr em sentido o adversário. A finta mais
bonita também não será dele. Mas falem-lhe de posicionamento ou simplicidade. Sentem-se
no café com ele e perguntem. Não haverá melhor professor! Dois, três toques e
bola para o colega. Espaço para queimar linhas? Passe vertical! Abertura
interior? Corrida com bola! Atraímos, soltamos! A defender? Estar junto! Fazer
a dobra aos dois “meias” ou “oitos” e se for preciso matar a jogada. Tranquilo,
faltas simples e eficazes… Aquelas que não precipitam os árbitros a amarelos.
Estamos apertados? Juntamos à defesa e todo o chuveirinho em frente à área eu
disputo.
Calma. Tranquilidade. É voz de comando, e a braçadeira
fica-lhe bem. Da inteligência vive este homem.
Que prazer senhor Ricardo!
O que te faltou?
A oportunidade? Mais uma vez refiro: uma diferente
estratégia dos clubes grandes, em Portugal, ter-te-ía dado novos voos!
Certamente já foste motivo de conversa entre o treinador, o diretor-desportivo
e o presidente. Mas nunca acreditaram em ti.
Mas quero fugir a isso, a isso que não controlaste, pois
sempre mostraste ser capaz.
Foste regular em todas as épocas e és sempre um jogador a
ter em atenção quando se defronta o Rio Ave. Jogas em várias posições e és forte
no duelo aéreo. Bem, foi mesmo uma questão de oportunidade!
O futebol não te deu esse prémio, mas deixou-te a pensar
naquilo que é a realidade futebolística no país. Eu também fui jogador amador e,
por isso, conheço-a.
A ilusão que a todos cultiva, que só preenche um dia a
ínfima parte dos que cá andam, mas que mesmo assim leva muitos a continuar na
perseguição desse sonho, dessa sua paixão genuína.
Compreendeste-a e isso mexeu contigo. Esse teu espírito de
mestre em campo, com a braçadeira, e na vida, com diploma de mestrado
(doutorado agora), levou-te a conhecer as dificuldades que os jogadores
atravessam no pós carreira. Esse não planeamento, essa não preparação ou,
simplesmente, a não constatação com a realidade, coberta pela ilusão de ver a
bola a rolar nos pés todos os dias, de ordenados interessantes para a população
portuguesa e benefícios que outros não têm. Pensar no depois, que nem sempre
acontece, e a exagerada vivência de um presente saboroso, sem ponderação futura
e que acaba a atrair as consequências.
Corrige-me se errei, mas penso que foi isto que te motivou a
avançares com “A Minha Causa”, um projeto teu que assume esse acompanhamento,
aviso e ajuda das carreiras desportivas, naquilo que é o seu planeamento
futuro. Naquilo que é ter solução para uma carreira que aos 35 anos deixa de
ser possível!
Gostei de ler as tuas ideias e queria conhecer mais… Talvez
um dia possa aprender isso contigo, quem sabe!?
Desejo que isto também seja mote para estes leitores
conseguirem perceber e ver o que viste e, assim, poderem também ser
potenciadores de outras soluções ou até mesmo serem ponderados.
Na falta da oportunidade que não te foi dada criou-se a
virtude. A atenção dos teus olhos foi focada e agora conseguirás tu fazer mais
nesta tua vida e na ajuda aos outros. Ficarás como um dos grandes da história portuguesa
e um daqueles que mais tarde será falado por este projeto.
Pela tua lealdade aos vilacondenses, pelo teu amor pelo jogo
e projeto futuro, serás sempre lembrado como capitão, nesse barco verde e
branco que todos os anos se aventura nos difíceis mares do futebol.


