sexta-feira, 25 de outubro de 2019

"O que te faltou?" - Tarantini


Olá Ricardo Monteiro!

Sei que também tens o teu blog, por isso deves saber o gosto que é escrevermos sobre algo que nos fascina.

No meu caso é o desporto rei e nesse, para mim, foste senhor. Por isso, sê bem-vindo a este espaço da minha rubrica.

Senta-te, pega numa chávena de café ou de chá (a bebida quente parece-me algo preferível nestes dias de outono). Descontrai e disfruta. Espero que gostes!

Tarantini, de seu nome Ricardo Monteiro, nascido em Gestaçô, Baião, deu os seus primeiros passos como sénior no Covilhã, passando depois por Gondomar e Portimonense, até chegar ao seu novo lar, Vila do Conde.

Na terra nortenha, junto de outros tantos vilacondenses, adeptos rijos do seu Rio Ave, clube que representa a garra e tradições pesqueiras, Tarantini fez-se senhor. São 11 épocas, 381 jogos, 35 golos e 20 assistências. Se há longevidade como esta, mostrem-me!

A cada ano que passa, é pedra fulcral. Assenta em qualquer sistema, colocando-se no meio-campo da equipa vilacondense, tanto a 8, como a 6 ou a 10. Pessoalmente, gosto de vê-lo atuar à frente da defesa. É daqueles “trincos”, hoje em dia “pivots”, que não pede mais ninguém a seu lado. Tem a liberdade para chegar ao lado esquerdo ou lado direito para equilibrar a equipa, sem a preocupação de sobrepor a posição do colega. Certamente que nunca o fez porque demonstra muita inteligência em campo, mas precisa desse “ser livre”. Há jogadores assim…

Dele não devem esperar o corte mais bonito, o carrinho artístico ou a entrada mais dura para pôr em sentido o adversário. A finta mais bonita também não será dele. Mas falem-lhe de posicionamento ou simplicidade. Sentem-se no café com ele e perguntem. Não haverá melhor professor! Dois, três toques e bola para o colega. Espaço para queimar linhas? Passe vertical! Abertura interior? Corrida com bola! Atraímos, soltamos! A defender? Estar junto! Fazer a dobra aos dois “meias” ou “oitos” e se for preciso matar a jogada. Tranquilo, faltas simples e eficazes… Aquelas que não precipitam os árbitros a amarelos. Estamos apertados? Juntamos à defesa e todo o chuveirinho em frente à área eu disputo.

Calma. Tranquilidade. É voz de comando, e a braçadeira fica-lhe bem. Da inteligência vive este homem.

Que prazer senhor Ricardo!

O que te faltou?

A oportunidade? Mais uma vez refiro: uma diferente estratégia dos clubes grandes, em Portugal, ter-te-ía dado novos voos!

Certamente já foste motivo de conversa entre o treinador, o diretor-desportivo e o presidente. Mas nunca acreditaram em ti.

Mas quero fugir a isso, a isso que não controlaste, pois sempre mostraste ser capaz.

Foste regular em todas as épocas e és sempre um jogador a ter em atenção quando se defronta o Rio Ave. Jogas em várias posições e és forte no duelo aéreo. Bem, foi mesmo uma questão de oportunidade!

O futebol não te deu esse prémio, mas deixou-te a pensar naquilo que é a realidade futebolística no país. Eu também fui jogador amador e, por isso, conheço-a.

A ilusão que a todos cultiva, que só preenche um dia a ínfima parte dos que cá andam, mas que mesmo assim leva muitos a continuar na perseguição desse sonho, dessa sua paixão genuína.

Compreendeste-a e isso mexeu contigo. Esse teu espírito de mestre em campo, com a braçadeira, e na vida, com diploma de mestrado (doutorado agora), levou-te a conhecer as dificuldades que os jogadores atravessam no pós carreira. Esse não planeamento, essa não preparação ou, simplesmente, a não constatação com a realidade, coberta pela ilusão de ver a bola a rolar nos pés todos os dias, de ordenados interessantes para a população portuguesa e benefícios que outros não têm. Pensar no depois, que nem sempre acontece, e a exagerada vivência de um presente saboroso, sem ponderação futura e que acaba a atrair as consequências.
 
Corrige-me se errei, mas penso que foi isto que te motivou a avançares com “A Minha Causa”, um projeto teu que assume esse acompanhamento, aviso e ajuda das carreiras desportivas, naquilo que é o seu planeamento futuro. Naquilo que é ter solução para uma carreira que aos 35 anos deixa de ser possível!

Gostei de ler as tuas ideias e queria conhecer mais… Talvez um dia possa aprender isso contigo, quem sabe!?

Desejo que isto também seja mote para estes leitores conseguirem perceber e ver o que viste e, assim, poderem também ser potenciadores de outras soluções ou até mesmo serem ponderados.

Na falta da oportunidade que não te foi dada criou-se a virtude. A atenção dos teus olhos foi focada e agora conseguirás tu fazer mais nesta tua vida e na ajuda aos outros. Ficarás como um dos grandes da história portuguesa e um daqueles que mais tarde será falado por este projeto.

Pela tua lealdade aos vilacondenses, pelo teu amor pelo jogo e projeto futuro, serás sempre lembrado como capitão, nesse barco verde e branco que todos os anos se aventura nos difíceis mares do futebol.

quinta-feira, 17 de outubro de 2019

"Fim de cena" - Tim Howard


Na edição deste “Fim de cena” iremos falar de alguém que pendurou as chuteiras e, ao mesmo tempo, fez descansar as suas luvas. Mais concretamente, refiro-me ao experiente guarda-redes Timothy Matthew Howard, mais conhecido por Tim Howard.

Nasceu a 6 de março de 1979, em North Brunswick, e o seu primeiro clube foi o North Jersey Imperials, onde realizou 6 partidas e foi levado para outra paragem pelo seu treinador de guarda-redes, Tony Coton, o mesmo que o introduziu neste desporto.

Foi a 18 de Agosto de 1998 que realizou a sua estreia na MLS com o MetroStars, executando 5 defesas e garantindo uma vitória por 4-1 sobre o Colorado. Curiosamente, foi a sua única aparição nesse ano.

Com poucas oportunidades pelo escalão principal, foi-se destacando pelas camadas jovens das seleções norte americanas, mais precisamente nos sub-20, chegando a competir no Mundial sub-20 realizado na Nigéria, em 1999.

Em 2001, tornou-se no mais jovem jogador da sua posição a ganhar o prémio de melhor guardião da MLS. Mas foi na temporada de 2002 que encontrou mais regularidade a nível competitivo, participando em 27 dos 28 jogos, chamando a atenção de clubes europeus.

Teve a sua primeira grande prenda a 10 de março de 2002, estreando-se pela seleção norte americana onde, mais adiante, conseguiu acumular 121 internacionalizações, 3 títulos da CONCACAF (2007, 2013 e 2017) e também o prémio de melhor guarda-redes na Taça das Confederações, em 2009.

Em 2003, o Manchester United exerceu o seu poder de compra e chegou-se à frente com 3.2M€ para a obtenção da maioria dos direitos do atleta. Foram 3 anos em que o americano realizou 77 partidas, conquistando a Supertaça de Inglaterra na sua estreia e a Copa da Liga Inglesa na sua "partida".

Com a compra do guarda-redes holandês Van der Sar, Howard saiu para o Everton, por empréstimo, de forma a ganhar mais tempo de jogo. Acabou por conseguir isso com sucesso e, assim, a sua transferência a título definitivo aconteceu no ano seguinte, por uma verba de 4.2M€.

Tim realizou 370 jogos. Tudo isso se traduz numa representação de 10 épocas ao serviço dos toffees, onde inclusive marcou um golo.

Uma história interessante para contar às futuras gerações: na temporada 11/12, frente ao Bolton, ao aliviar uma bola, conseguiu que a mesma entrasse na baliza após ter passado pelo redes adversário. Pena o resultado ter sido uma derrota por 1-2. Mas este golo valeu-lhe um registo histórico, pois apenas três colegas de posição foram capazes da mesma proeza, na Premier League.

Após este longo contrato ter chegado ao fim, regressou aos Estados Unidos para representar a equipa de Colorado, competindo novamente na MLS. Nessa segunda passagem, conseguiu chegar até às finais das confederações, perdendo para a equipa de Seattle, num agregado de 3-1.

A sua última partida foi frente à LAFC, que venceu por 3-1. Mas, neste caso, o jogo não tinha um caráter tão importante, por se tratar da última jornada da fase regular da MLS.

Não será esta partida que nos fará recordar este jogador, mas sim as suas presenças na Premier League onde, na minha opinião, foi um pilar na equipa do Everton, que só agora encontrou alguém para passar o testemunho.

Howard será recordado por ser um líder, um guardião que nunca ficava mal na fotografia, mesmo nas derrotas. Mas, principalmente, um senhor entre os postes!

Teremos saudades, Howard!

segunda-feira, 7 de outubro de 2019

"Face da mudança" - Lucas Evangelista



Nesta última jornada de provas europeias estivemos em Guimarães, de olhos postos num Vitória Sport Clube que conquista cada vez mais protagonismo em Portugal.

O confronto entre os portugueses e os alemães do Eintracht Frankfurt foi intenso. O povo vimaranense inspirava e expirava cânticos a alto som, procurando promover os seus lutadores a autênticos Conquistadores.

Não é por ser português, mas o Vitória SC merecia outro desfecho. Lutou como um verdadeiro David mas, ainda assim, viu Golias aproveitar-se de uma pequena desconcentração para abater o “pequeno”.

Num grande jogo vitoriano, a maioria dos elementos da equipa esteve em destaque. Nomes como Sacko, Edwards e Mikel estarão dentro do lote das grandes estatísticas, mas preferimos destacar um atleta que já há poucos anos se apresentou aos portugueses. Falamos de Lucas Evangelista, o médio ofensivo que em 2017/18 esteve emprestado ao Estoril Praia, proveniente da Udinese.

O esquerdino brasileiro, de 24 anos, brilhou no último terço do terreno, frente à equipa de Frankfurt. Foi com a assinatura dele que muito do perigo ocorreu, fosse com os seus passes que queimavam metros ao adversário ou com a magia com que, aqui e acolá, fugia dos adversários - recordo-me mesmo de um movimento técnico entre dois atletas do lado visitante, onde Lucas Evangelista fugiu à marcação através de um túnel sobre um deles. Foi o suficiente para levantar o estádio.

Na altura em que foi apresentado no Vitória SC, lembrei-me dos seus momentos artísticos quando jogava pela zona centro do nosso país. Os golos e os momentos que facilmente criava sozinho, mesmo que isso o deixasse ficar com o papel de jogador individualista. Ainda assim, notava-se já uma qualidade diferenciada e, bem lapidado, podia tornar-se num jogador acima da média.

Pelo menos eu via isso.

Neste último jogo, em que me concentrei nos Conquistadores, vi um Lucas Evangelista deliciar-me com o mesmo pé esquerdo de sempre, mas com uma maturidade que não lhe era reconhecida há duas épocas atrás.

Até ao momento, o médio com características ofensivas leva um golo e duas assistências em sete jogos oficiais, aproximando-se assim rapidamente dos números obtidos na sua última passagem por Portugal.

Atrevo-me a dizer que o brasileiro me faz recordar Juan Fernando Quintero. Nas suas semelhanças e diferenças, entenda-se que o desejo em ver um artista “da bola” triunfar no nosso país e ser bem acarinhado é grande.

Com a saída de Portugal, perdi-lhe o rasto. Contudo, sinto-me motivado a olhar novamente para o seu percurso daqui em diante, agradecendo a Ivo Vieira por trazê-lo de volta e deixá-lo, mais uma vez, encantar-me.


Previsão de transferência: De momento, o Vitória SC não tem a totalidade dos seus direitos. O jogador veio a título de empréstimo com opção de compra, proveniente do clube francês Nantes.

O facto de ter retomado a Portugal, para além da iniciativa provável do treinador, faz-me acreditar que a sua vida fora desta liga não tem sido fácil. Foram 19 jogos num Nantes de um outro treinador português (Miguel Cardoso), onde apenas marcou um golo.

A sua vida parece estar nas mãos dos técnicos portugueses, sobretudo nas mãos do comandante da tripulação vitoriana que, caso não saia do clube, terá uma palavra a dizer no fim da época quanto à continuação ou não de Lucas na equipa portuguesa.

A meu ver, Lucas Evangelista terá o seu lugar de destaque em Guimarães e poderá ser uma importante ajuda numa época que se espera muito boa.

A seu tempo, considero que o melhor será confirmar que vale a pena o seu investimento. Prosseguir no Vitória SC, com sorte, com uma possível continuidade do técnico atual, seria a melhor solução para se continuar a afirmar, sobretudo a curto prazo.

Em boa verdade, não o entendo como jogador para saltar para um grande português, pois receio que possa viver entre o banco e a bancada, com dificuldades em conquistar o seu lugar. Mas é um jogador que se quer ver com bola e, no seu eventual crescimento de carreira, o melhor destino será sempre uma equipa que não tenha medo de assumir o jogo, à semelhança do Vitória SC de Ivo Vieira.

Último requisito? Uma equipa que se estabeleça anualmente em posições de disputar a segunda maior prova europeia, pelo menos.

Posto isto, que se mantenha bem acarinhado e que possamos acompanhá-lo semanalmente e a este Vitória SC que ainda nos vai surpreender mais.

Portugal faz-lhe bem!