«A FIFA anunciou esta
quinta-feira que vai duplicar no seu código disciplinar o castigo mínimo
previsto para intervenientes do futebol que tenham comportamentos racistas. (…)
o novo código vai permitir que os árbitros interrompam um jogo de futebol por
incidentes racistas, podendo mesmo dá-lo por encerrado e atribuir a derrota à
equipa infratora (…)»
Com isto, quero “apontar o dedo”
a dois pontos descritos e que me parecem ser de análise prioritária.
Porque uma boa história começa a
ser contada a partir do fim, sinto que é essencial destacar a carga adicional
que os árbitros passaram a ter no desenvolvimento do jogo.
O árbitro é, desde há muito, o
incompreendido “mau da fita”. É o principal culpado pelos cinco penáltis que
não assinalou, as dezassete faltas não assinaladas com consecutivo cartão
amarelo e que, de forma acumulada, podiam ter resultado em três expulsões.
Em cima, é só e apenas a soma das
fortes opiniões de jogadores, treinadores, dirigentes e adeptos sobre as
variadas situações de jogo.
Imaginem-se a decidir um livre à
entrada da área ao invés de um penálti. Imaginem-se a marcar uma grande
penalidade, que gera dúvidas, no último minuto do encontro. Imaginem-se a
avermelhar um jogador no primeiro quarto de jogo. Qual será a pressão em
decidir um final de jogo, sem que o tempo tenha sequer terminado?
O árbitro começa a ter maior
decisão final que o supremo tribunal, propriamente. À margem da autoridade, o
“senhor juiz” está agora incumbido de ser os olhos e os ouvidos dentro e fora
de campo.
É inapropriado dizer que o VAR é
a resposta para todos os problemas. As dúvidas continuam a ser as mesmas e,
quando a questão passa por culpar alguém, a maior vítima será aquele [e a sua
equipa] que procura servir a justiça dentro das quatro linhas.
O VAR passou a ser um forte apoio
do árbitro dentro de campo, mas acresceram os problemas fora do terreno de
jogo. Numa outra perspetiva, puxou-se o cobertor numa ponta mas, do outro lado,
sentem-se novas rajadas de vento.
Gostava de ter resposta para
diluir estes pesos pesados da arbitragem que cismam em evoluir e não
desaparecer. Penso que a maioria gostava de saber responder a isso e, de certo,
não passaria por suportar a “teoria do cobertor”.
É com o desenvolvimento deste
primeiro ponto que dou mote àquela que é a problemática principal [e
retrógrada] que se tem destacado na recente época, num volte face à regra última
lançada pelo maior organismo da modalidade. É a temática para a qual decidi
escrever este artigo e espero sentir que lanço uma lufada de ar fresco que
assente num futebol justo e para todos.
Qual não será o papel
preponderante que um árbitro terá que assumir daqui para a frente sobre o jogo
e, por sua vez, a batalha que terá para alinhar os seus chacras e encontrar uma
resposta equilibrada para dar como encerrada uma partida, devido a ações
racistas?
[A resposta equilibrada está
assente sobre dois pontos: a questão emocional e a questão profissional. O
árbitro tem um papel autoritário dentro de campo, mas fora das quatro linhas é
uma pessoa como as outras. Ainda assim, ao olhar de outrem, estas pessoas
continuam a vestir a camisola de cor fluorescente durante as suas vidas
pessoais. Com este pequeno aparte, queria apenas deixar a noção de que além das
decisões tomadas em terreno de jogo, o árbitro acaba por ter de viver na
pressão de que todas as suas respostas podem ter as suas consequências.]
Posto isto, reside a dúvida sobre
a regra estipulada à luta contra o racismo. O lado bom e o lado mau, se é que
os há. O lado da justiça e o lado de quem infringe. O triângulo romântico entre
equipa A [e os seus adeptos], equipa B [e os seus adeptos] e a equipa de
arbitragem.
Na noção natural das coisas,
pergunto-me: existe necessidade de aplicar uma regra para contornar esta
problemática? [Sim, digo contornar. A regra é só um esquema de colocar a
criança a olhar para a parede durante um espaço de tempo e acreditar que ela
não voltará a fazer o mesmo quando terminar o castigo].
A resposta da maioria será sempre
em defesa dessa nova regra ou em aplicar uma diferente com o mesmo tipo de
contorno.
A minha melhor resposta talvez
passe por retirar os castigos e educar o povo.
Aproveitando para trazer a minha
vida pessoal ao barulho, posso assumir que desde cedo os meus pais retiraram a
ideia da cabeça de que para me educarem deviam colocar-me a estudar, retirar-me
algo ou, simplesmente, ficar quieto em qualquer local aborrecido da casa. Eu,
sabendo como contornar a situação, tinha a normal tendência de tirar a habitual
sesta durante aquilo a que denominamos “castigo”.
Portanto, cresci com uma educação
baseada no exemplo e na forma gratificante que era ver o quão aquilo que fazia
de bom era valorizado, fosse de forma concreta ou abstrata.
O que quero verdadeiramente
transmitir é que esta situação é triste. Mais triste é sentir que tudo é uma
corrida contra a corrente e que o “caminho fácil” é aquele que a maioria vai
optando.
Eu próprio já vivi na bancada momentos em que um adepto,
ou mais, procuram atingir negativamente o atleta adversário segundo a sua cor.
Esquecem-se, esses mesmos adeptos, que a equipa por quem eles torcem também
apresenta atletas negros, brancos ou asiáticos.
E, mesmo que na ínfima hipótese, estes não torçam por um
clube, torcem pelo desporto em si e, nesse mesmo, jogam todas as raças e
culturas.
O ser humano não é uma só raça?
Tenho saudades do único momento em que a maior referência
racial provinha de uma simples frase - “Oh chinês, atira a bola!”. Era um tempo
de inocência, na esperança que a bola, que ultrapassava o muro da minha escola,
voltasse.
Devido aos meus pés quadrados, nem penso contabilizar o
número de bolas que foram e voltaram. Mas uma coisa vos posso dizer, mais de
50% das bolas que retomaram não deve ter sido o mesmo “chinês”.
Por fim, e porque me parece que
veio mesmo na altura correta, faço minhas as palavras de um grande treinador que
não tem medo de dizer o que deve verdadeiramente ser dito: «O futebol tem a
tecnologia certa para parar estas pessoas. É inadmissível falar-se em raças em
2019. Só existe uma raça – a raça humana».

Bravo, exatamente os meus pensamentos sobre o assunto mas escritos de uma forma muito mais eloquente.
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