Em tempo de chuva, quem diria não a umas férias em terras
algarvias?
Numa daquelas semanas de verão, onde a maior preocupação é
manter o quarto de hotel fresco, para quando se voltar da praia ou da piscina (não quero diferenciar
preferências), o corpo possa descansar e apreciar um bom momento de relaxe.
Uma introdução aleatória para uma pequena história, ainda antes
de mais uma opinião feita.
Numa dessas semanas em que os meus pais me levavam a mim e à
minha irmã para sul, para uma semana longe dos seus trabalhos, jogava-se a
final do mundial sub-20. Certamente conseguem acompanhar-me nesta
calendarização e não vos é nada estranho o dia 21 de agosto de 2011.
Mas recuemos umas horas…
Em jeito de curiosidade, quem nunca disputou com a sua irmã
o comando da televisão?
Nesse dia foi a decisão mais fácil!
Fica ela com o comando, assim adormece e terei tempo para
ver o jogo como bem quero. Interesseiro? Talvez… Mas justificou o ato.
Na Colômbia, em Bogotá, um jogo muito interessante ía ser
disputado, cheio de talento em ambos os “onze”, dos quais já vamos falar, e que
acabou da pior maneira.
O Brasil foi campeão e Portugal, mais uma vez, no “quase”.
Óscar foi decisivo, já no prolongamento selava uma exibição
de gala, com o último de três golos, que matava aí o jogo. Os portugueses
acusavam já demasiado cansaço para responder.
Resultado final 3-2, golos de Óscar para o Brasil, Alex e
Nélson Oliveira marcaram pela turma das quinas.
Passando ao que esta rubrica se trata, vejamos os convocados:
Os nomes do lado canarinho são bem conhecidos, muito por
culpa dos altos voos que a maior parte dos jogadores atingiu, casos de Danilo,
Casemiro, Juan, Oscar, Coutinho, Alex Sandro e Dudu (referência do Palmeiras).
Destaco ainda o avançado Henrique que acabou a prova como melhor marcador, mas
a carreira de sénior passou muito ao lado daquilo que se esperava. Até o devem
conhecer por Henrique Dourado, avançado que o ano passado representou o
Belenenses Sad.
Digamos que o saldo geracional acabou por ser bastante
positivo e, contas feitas, corresponderam àquilo que se esperava. Ou seja,
chegar à seleção principal e aos grandes clubes europeus, sendo figuras das
provas onde participam e, como qualquer brasileiro de destaque, nome
reconhecido na Champions League.
Do lado “tuga” nem por isso…
A ilusão era muita para a maior parte. Eram comparados à geração
de ouro que em 1991 ganhou destaque com nomes como Figo, Rui Costa, Fernando
Couto, Capucho, Jorge Costa, Paulo Alves e Paulo Sousa. Estes novos atletas
mostravam uma menor qualidade técnica ou nível de estrelato, mas destacava-se uma
entrega ao jogo fantástica e um coletivo muito coeso, que expressou os 0 golos
sofridos até à final de 2011.
Foi um feito considerável que lhes valeu o apelido de “Geração Coragem”.
Se de valentia se apelidavam, o fator “cabeça” não deveria
levantar muitas dúvidas. A adaptação ao futebol profissional não deveria ser
problema. Mas não deram o passo!
O que vi foi sempre jogos intensos, à data. Miúdos
caracterizados pela força de Danilo, Pelé e Sérgio no meio, a explosão de
Nélson Oliveira na frente, a competência e simplicidade de Roderick, Nuno Reis
e por vezes Tiago Ferreira na retaguarda, a segurança de Mika e o desequilíbrio
entre Cédric, Mário Rui e Caetano. Eram processos simples, mas demonstravam a
maturidade suficiente para vencer o virtuoso futebol das camadas jovens
sul-americanas, que habitualmente se apresentava com a sua técnica de rua
irreverente. Competentes em campo, com a sua entreajuda iam superando todos
esses adversários. Vencemos uma França por 2 a 0, quando contavam com Coquelin,
Griezmann e Lacazette no plantel!
Com isto, esperava um salto e impacto muito maior para esta
geração!
Eram jovens já cotados em Portugal.
Pelé nos sub20 do AC Milan, era muito cobiçado. Danilo,
Mika, Roderick, Nélson Oliveira, Luís Martins e Mário Rui eram craques já
falados dos juniores da SL Benfica. Amido Baldé, Cédric e Nuno Reis, nomes
esperançados do Sporting CP. Caetano, Sérgio Oliveira e Tiago Ferreira eram as
promessas portistas. Rafael Lopes (Varzim) e Júlio Alves (Rio Ave) apareciam
como outsiders.
Nem tudo o que parece
é…
Com mais um grande desempenho das quinas, esperava-se logo
uma afirmação destes jogadores e que em 2 ou 3 anos fossem apostas dos seus
clubes e figuras da seleção. Mas nada disto aconteceu. Vejamos...
- Com jogos na seleção A: Danilo, Nélson Oliveira, Mário Rui, Cédric e Sérgio Oliveira.
- Num dos três grandes: Sérgio Oliveira, Danilo e Cédric.
- É justo colocar Mário Rui pelo que tem feito em Nápoles.
Aos outros o futuro não reservou grandes hipóteses. Tenho ouvido falar
de Mika e Ricardo dias, que tive o prazer de ver ao vivo pela Académica, no campo
do Varzim. Nélson Oliveira ouvi falar há sensivelmente meia época pelos bons
jogos em Nottingham. Caetano esteve no Penafiel e agora está sem clube. Por
fim, Rafael Costa vou acompanhando pelo serviço prestado no Boavista.
Nenhum destes jogadores acabou por se afirmar como indiscutível na
seleção. Apesar de campeões europeus, Danilo e Cédric nunca foram grande
destaque ou imprescindíveis. Mas se esta fosse a previsão após aquele mundial
sub20, saberia a pouco… Pareceria injusto!
O que faltou?
A falta de oportunidade!
Não digo para todos, porque certamente muitos não chegariam lá. Não
teriam estaleca para um compromisso diferente e para uma vida profissional onde
primeiro somos segundas ou terceiras escolhas, até ao dia em que nos afirmarmos
como primeira opção. O ego de estrela em todas as camadas jovens afeta a realista
consciência na idade adulta, onde a escolha é maior e a exigência superior. A
regularidade é testada e todos nos vêem. Todos se preocupam em criticar ou
gostar. Isso afeta e, aí, só os maduros vencem.
Mas vejamos uns exemplos.
Mário Rui saiu para Itália, cresceu nos pequenos clubes até chegar - já
tarde - a um grande da Serie A. Chegou
por mérito e trabalho próprio até ser, na minha opinião, o melhor lateral
esquerdo português da atualidade.
Danilo saiu do Benfica e ganhou espaço lá fora, até voltar para o
Marítimo. Rumou ao Porto onde agora é titular.
Sérgio Oliveira foi o mais jovem de sempre a estrear-se pelo Porto e
tenta ser referência do plantel, agora com 27 anos.
Cédric foi rodando por equipas portuguesas, até se afirmar no Sporting,
chegar à seleção e rumar a Southampton, à Premier League.
Nélson Oliveira tentou no Benfica e o clube tentou com ele. Simplesmente
não deu. Não era para ele ser jogador de referência na área. É um jogador móvel
com força e técnica, tanto enfrenta os centrais no ar, como os laterais pelo
drible, mas não é de “toque” de bola, não é ideal para um jogo muito elaborado.
Vive da explosão!
Todos estes são jogadores que nunca se valeram pela magia em campo… São
os jogadores de luta e entrega, que antes de inventar, simplificam o jogo,
tornando-o num conjunto de processos treinados e essencialmente já conhecidos.
Preocupam-se em saber onde estão e o que têm de fazer bem.
Numa altura em que começava a dar cartas o futebol total de Cruyff, na
expressão de Guardiola, o mundo enchia-se de entusiasmo e fantasia com esta
ideia de jogo. Os adeptos procuravam isso nos seus jogadores e os treinadores
começavam a olhar com razão!
Um central pontapear uma bola para a frente? Nunca! Tem de querer “jogar”.
Um médio sem fazer um passe vertical entre linhas? Fraco! Nem que defenda bem,
tem de querer “jogar”. Um lateral fazer a linha e passar nas costas do extremo,
só para cruzar? Não! Procura jogo interior, vem para dentro e passa na frente
do extremo. Tem de querer “jogar”.
A obsessão por uma ideia única e certa parecia fechar os olhos ao mundo
do futebol e tornar como requisito essencial as características de cada jogador
daquele plantel do Barcelona.
Felizmente, o futebol pode ser interpretado de muitas formas!
Dentro do jogo pode haver várias mentalidades, consoante a
circunstância, e os plantéis devem ser construídos para isso. Se assim tivesse
sido, estes jogadores teriam tido mais espaço, porque hoje em dia já é
admissível esta filosofia. Hoje, já nem todo o jogador necessita de saber
fintar ou fazer um último passe. Um defesa pode apenas defender. Pode ser essa
a sua função, por estranho que pareça!
E os olhos para a formação? Esses mudaram com essa cantera da La Masia.
Agora querem que todos sejam um Messi, Xavi, Iniesta, Busquets ou
Piqué. Dão-lhes minutos a titular, sem antes terem começado como suplentes, mas
vocês “corajosos de 2011” chegaram tarde para isso. Não teriam de ter suado
tanto, poderiam mostrar-se com mais tempo e mais paciência. Paciência essa que
o adepto agora tem para com um jogador da sua formação…
Mas não importa!
Se nem todos vingaram, os que à Champions chegaram levam consigo o
rótulo da coragem que a vós vos incutiram. Tiveram de sair e enfrentar o
desconhecido para cumprir o seu sonho…
E por último, OBRIGADO!
Com o mesmo orgulho que tive às 4 da manhã do dia 21 de agosto de 2011,
aplaudo-vos por terem sido uma “semente” no despertar da formação portuguesa.
Essa mesma é agora cotada em todo o mundo!
"Nação valente e imortal", entusiasmada homenagem à "geração CORAGEM".







