segunda-feira, 30 de setembro de 2019

"Fim de Cena" - Anderson Oliveira


Para esta edição, não tinha mais cartas do meu baralho para apresentar. Foi então que soube de uma notícia que me deixou triste e ao mesmo tempo em choque (mais à frente explico a razão).

Nascido a 13 de abril de 1988, este brasileiro deu os seus primeiros toques pelo Grémio quando tinha 11 anos e assinou o seu primeiro contrato profissional aos 16 anos!

A sua primeira época não foi de grandes feitos, com poucos minutos e apenas um golo e, juntando a isso, a descida de divisão do clube para a Série B.

Mas, no ano seguinte, foi posto à prova e aguentou a pressão de ser titular, conseguindo não só ser o jogador mais totalista e entrar no onze da temporada (daquela divisão), como também garantir a subida de divisão que o clube queria garantir.

A partir daqui tudo mudou. Em 2005 foi acordada a transferência para um clube europeu, que seria oficial quando a temporada no Brasil chegasse ao fim. Foi então em janeiro de 2006 que Anderson aterrava na cidade do Porto para jogar pelo clube do Norte.

Ao início pensei que seria mais um que precisaria de ritmo e adaptação, mas o que apresentou em campo desde que teve a sua primeira oportunidade foi apenas incrível. De tão tenra idade e já conseguia ser o dono do meio campo e, sem querer ser oportuno, possivelmente do jogo.

Com época e meia nos dragões conseguiu ser fundamental desde o momento em que chegou e foi colhendo os frutos desse seu talento, conquistando 3 títulos nacionais: a Supertaça de Portugal, o Campeonato e a Taça de Portugal.

É evidente que gosto que todos os denominados "craques" que passam pelo nosso país fiquem o máximo de tempo possível, e este miúdo estava no lote desses meus desejos mas, para tristeza minha, partiu para outro país - Inglaterra.

Com 19 anos partiu para o Manchester United por uma verba de 31.5M€ e foi apresentado com o português Nani, com o número 8 nas costas.

Apesar de ser uma segunda linha, viria a ser o dono do lugar que carregava nas costas. Assim, estreou-se a 1 de setembro de 2007, frente ao Sunderland.

Demorou para fazer o gosto ao pé, e até para ser um titular indiscutível. No entanto, tal aconteceu a 12 de setembro de 2009.

Mas antes desse grande passo, teve um papel importante na final da Liga dos Campeões 2007/08, onde substituiu Paul Scholes devido a uma lesão e foi um dos selecionados para a loteria dos penaltis, convertendo e contribuindo para essa conquista europeia!

Foi a partir desta final que vi um potencial a regredir e, possivelmente, sem explicação!

Com muitos comentários do próprio a desejar regressar ao Dragão, viu o seu contrato a ser prolongado, tendo Alex Fergunson elogiado o seu crescimento e planeado o seu futuro. No entanto, tudo mudou para pior.

Sendo sincero, nunca mais ouvi falar dele, a não ser que tenha executado uma jogada vistosa ou que tenham feito um flashback de uma memória e me tenha recordado dos velhos tempos em que espalhava magia por Portugal.

Penso que é insignificante falar do seu trajeto de empréstimos e representações de contratos novos, pois até dá pena relatar isso.

Mas tal como tinha mencionado anteriormente, só através de notícias de jogadas é que se fazia luz sobre este jogador e foi sobre ele que decidi falar pela simples razão de ter anunciado o fim de cena!

Jogava na segunda divisão turca e aos 31 anos de idade e com apenas uma partida disputada na época 2019/20, o presidente revelou o seguinte: «O Anderson decidiu deixar o futebol, reduziu o ordenado em 400 mil euros e vai continuar trabalhando no clube. Acredito que seja muito útil nas relações externas, revelou Murat Sancak, presidente do Adana Demirspor.».

De salientar a sua participação nas seleções jovens (sub-17) do seu país natal, o Brasil, tendo mesmo sido chamado para a seleção principal da canarinha. Aí estreou-se em 2007 frente ao México, terminando numa vitória pela margem de dois golos a zero. Ainda participou nos jogos olímpicos de 2008, pela orientação do selecionador Dunga, marcando o seu primeiro golo pelo país e terminando no 3º lugar dessa competição.

Poderia ser um destaque para a nossa secção “O que te faltou?”, mas com muita pena minha sairá nesta edição, que tem como objetivo dar a conhecer a melhor face da carreira de um jogador profissional. Apesar de ter um talento enorme, não teve a finalidade que muitos esperavam, e eu faço parte desse lote que esperava vê-lo a singrar num clube como o Manchester United. No entanto, como tenho vindo a dizer ao longo desta narrativa, é a edição mais triste e pobre sobre um jogador que podia ter tudo, mas terminou com pouco ou menos do que era esperado.

quinta-feira, 26 de setembro de 2019

Corrida de "aflitos" com Pepa a comandar uma reviravolta.

PAÇOS DE FERREIRA vs DESPORTIVO DAS AVES
Liga NOS (6ª jornada) - 20/09/2019

Com tantos jogos empolgantes neste fim-de-semana, decidi trazer à tona um jogo de "aflitos", isto devido à necessidade que as equipas têm para pontuar, de forma a saírem do "buraco" onde se meteram.

Abriu assim a 6ª jornada do campeonato entre duas equipas que ainda ocupam as últimas posições do campeonato.


Pepa estreava-se em casa pelo Paços de Ferreira e, face à exigência dos adeptos, esperava-se uma vitória dos castores. Do outro lado, Augusto Inácio apresentava um plantel diferente, onde teve novamente de mexer na defesa durante o encontro, mas mais tarde falaremos sobre isso.

O jogo começou morno, com ligeira ascendência do Paços, no que diz respeito à posse de bola. O ambiente nas bancadas ainda estava muito silencioso, visto que ambas as claques entraram bem após o apito inicial, devido à rivalidade que existe entre as duas formações provenientes do Grande Porto.

Os castores mostravam alguma intensidade e garra em todas as disputas de bola, numa característica que Pepa vincou logo desde a sua chegada a Paços.

Sem nenhuma oportunidade de golo nos primeiros 20 minutos, foi o Aves que, na primeira vez que se aproximou da baliza do Paços, criou espaço do lado esquerdo e, num erro de Bruno Telles, Mohammadi na linha de fundo colocou, num passe atrasado, a bola em Welington, colocando a bola na gaveta e adiantando o Aves no marcador.

A festa era do visitante e do lado da casa já se via algum descontentamento dos adeptos.

O Paços reagiu. Assumiu ainda mais o controlo do jogo, mas eram raras as aproximações à baliza de Beunardeu. Apenas alguns cruzamentos e tabelas no lado direito, pela subida de Bruno Santos, que falhavam sempre o último passe.

O intervalo chegou e era necessário ajustar a equipa pacense, que precisava de fazer muito mais na segunda parte, isto se queriam dar início à reviravolta no jogo.

Começava a segunda metade, onde Augusto Inácio foi obrigado a mexer novamente na defesa - esse pode ter sido um aspeto importante no decorrer do jogo.

Pepa trouxe o mesmo onze da primeira parte, mas com um sistema muito mais ofensivo e objetivo nas suas jogadas atacantes. Um jogo muito mais central, com tabelas rápidas que puseram muitas vezes a defesa do Aves em dificuldade.

O Paços continuava a criar perigo mas, no momento do remate, a bola nunca tinha a direção do golo. Havia sempre alguém no caminho ou o remate saía muito mal direcionado.

Foi mesmo na ressaca de um remate bloqueado que a equipa de Pepa chegou, finalmente, ao golo.
Na sequência de um canto, Douglas Tanque, que se encontrava próximo do segundo poste, nem precisou de saltar e fez o empate na partida, algo que deixou a equipa do Paços bastante motivada e os adeptos a acreditarem que seria possível conquistar ainda a vitória.

O Aves tentava sair em contra-ataque e em algumas incursões ainda criou algum suspense perto da baliza dos caseiros.

O jogo foi-se arrastando e, já perto dos 80’, Marco Baixinho, sozinho ao segundo poste, cabeceou para fora. Um lance que deixou os adeptos pacenses desesperados.

Mas a reviravolta não demorou muito a chegar.

Num cruzamento de Bruno Santos, à direita, a bola ressaltou dentro da área e encontrou Diaby que, já em queda, faz o 2-1 para os caseiros, levando os adeptos pacenses ao delírio.

Até ao final, destaque ainda para a expulsão de André Micael, do lado da Capital do móvel, que deixou a equipa a jogar com menos um elemento durante 10 minutos, sensivelmente.

Na sequência do livre, Mohammadi, numa jogada ensaiada, remata forte mas o guarda-redes dos castores consegue aliviar a bola da zona da pequena área.

Essa foi a última jogada de relativo perigo do jogo, que terminou com uma gestão de bola do Paços junto à bandeirola de canto.

No geral, pode dizer-se que foi um jogo muito bem disputado entre duas equipas, com estratégias claramente definidas.

Mas, como diz o outro, foi a equipa que manda em casa que ganhou.

No meu entender foi uma vitória sofrida, mas justa.

Paços de Ferreira 2 - 1 Desportivo das Aves



PAÇOS DE FERREIRA

A chicotada psicológica pode ter sido fundamental para a primeira conquista dentro de portas. Isto é, as vitórias trazem boas vibrações e, aliado a isso, vêm melhores jogos e, possivelmente, mais pontos nas próximas jornadas.

Diria que o homem do jogo foi mesmo o treinador Pepa, pela forma como demonstrou que pode tirar o Paços dos lugares de descida, ainda que precise de trabalhar muito o seu plantel para chegar a um patamar que conseguiu com o Tondela, quando por lá treinava a equipa beirã.


DESPORTIVO DAS AVES

Teve um mercado agitado durante este verão, mas os resultados ainda não surgiram, ou tardam em aparecer, e sabemos que, tal como tudo, isso termina.

Verdade seja dita: Augusto Inácio, teve um papel importante desde que assumiu o cargo deste clube, mas será difícil vermos uma equipa avense novamente na ribalta, como na final da Taça de Portugal.

Inicialmente, não considerava o Aves no lote das equipas que podem descer, mas se a má sorte ou a fase negativa continuar, o jogo psicológico pode ter uma resposta tardia e não suficiente.

Até à próxima,
DL 

quarta-feira, 25 de setembro de 2019

"O que te faltou?" - Evandro Goebel


Evandro Goebel, de nacionalidade brasileira e sérvia (desconhecia esta possibilidade), centro-campista, com passagens por Estoril de Praia (16 golos, 10 assistências), FC Porto (6 golos, 2 assistências), Estrela Vermelha (16 golos, 12 assistências), Hull City (5 golos, 4 assistências) e clubes brasileiros, entre eles o Santos, onde ainda hoje faz parte do plantel.

Cumpriu, até agora, 326 jogos onde faturou 48 golos e proporcionou 38 assistências. Para médio, bons números. Participou na Liga Europa e Liga dos Campeões, o que só por si já deixa ciumentos muitos outros canarinhos com o sonho europeu.

Ficam as estatísticas. Assunto resolvido, vamos ao que interessa.

Assim como o golo nos apaixona neste jogo, espero que sejam estes os motivos que vos prendam à leitura.

“Porquê ele?” – questionam eles.
- “Parece insensato?” – pergunto eu.
- “SIM!” – respondem eles, afirmativamente.
- “Então deixem-me explicar.” – respondo eu, seguro de mim.


Fez-se silêncio, tenho a vossa atenção e serei agora testado. Venha isso!

Na época 2012/2013, se bem se lembram, o Estoril de Praia conseguiu (com muita injeção financeira de capital canarinho) o apuramento para a Liga Europa, fazendo história e juntando-se ao Paços de Ferreira, naquilo que seria uma época estranha do futebol português.

O futebol era bom e destacado, com exibições sorridentes, sendo bem praticado. Esse que era correspondido pelos golos de Steven Vitória (sim, um defesa melhor marcador) e Luís Leal (sosseguem, este já era avançado), passando assim do bonito ao eficaz.

Destacavam-se os golos, os dribles de Licá e Carlitos, a definição e irreverência de Carlos Eduardo, a profundidade de Jefferson e a muralha que era Steven Vitória e Yohan Tavares. Quase todos estes haviam de chegar a um grande, acompanhados por mais um - Evandro.

No papel de 8, era mestre da ligação entre um 6 (trinco), Diogo Amado, e o distribuidor de último terço, 10 moderno, Carlos Eduardo. Permitia queimar linhas, sair de situações com bola controlada e, mesmo assim, segurar defensivamente uma segunda linha de pressão, descansando Carlos para tarefas ofensivas. Um despercebido do qual Marco Silva nunca abdicava. É assim a norma: quem fala e é capa nos jornais, no balneário é segundo plano. E os tímidos, aos olhares dos espectadores, afirmam-se entre as quatro paredes e consideração dos colegas. Até porque só assim vingam!

Certamente, os centrais quando levantavam a cabeça já procuravam Evandro e bastava-lhe movimentar-se, pois sabia que a bola vinha e depois estava entregue à sua arte.

Confiante, distribuía e, na transição defensiva, definia momentos de pressão ou contenção. Esqueçam a braçadeira… São estas as referências. Um passo deles é ordem para a equipa e assim os grandes jogadores destacam-se.

Chamava a atenção para este médio, que já aparecia com idade avançada para chegar ao top do top. Com o aviso parecia louco e no início deste texto também vos pareço. Mas sem receio, é só mais uma humilde opinião de um rapaz que gosta tanto do desporto rei como qualquer um de vós.
Mas a timidez chegou à capa, fazendo o que fazia melhor!

Não falou, destacou-se em campo. No dia 23 de Fevereiro de 2014, agora uma época depois, numa exibição pobre do FC Porto no Estádio do Dragão, a invencibilidade caseira de 5 anos era derrubada por um penálti de Evandro.

E ali, mesmo à frente do acontecimento, eu dizia ao meu amigo, “Agora será jogador”.

Teve o impulso necessário e vir-se-ía a transferir para o conjunto azul e branco, num ano de transferências atípicas, ao leme de Lopetegui. Dos muitos milhões gastos, este foi uma pechincha! Pelo menos assim achava…

Nunca se conseguiu afirmar e num papel de rotação nunca foi muitas vezes usado a titular. Mas enquanto jogava cumpria e passava despercebido, o que por si só é sinal de competência.

Naquela posição, não se fazer notar é não errar. É fazer o que é pedido, ajudando a equipa, mantendo a pressão adequada e ser solução intermédia na criação e, mesmo sem definir, ser decisivo. Não para os milhares que se sentam na bancada, mas para as unidades que se sentam no banco.

Lembro-me em especial de um jogo: 23ª jornada da liga Portuguesa da época 2014/2015. Dia de clássico. O dragão era palco de mais um jogo entre azuis e verdes, ambos acompanhados de branco.

O rescaldo do jogo é simples, 3-0.

Sporting muito fraco a controlar a profundidade e a velocidade de Tello, exemplarmente assistido por Jackson, define o jogo. Hat-trick e nas capas de jornal falava-se castelhano. Simples, fácil e não deveria haver mais discussão. Era um hat-trick!

Mas um olhar atento a isso não permite.

Se há oportunidade de construir é porque a bola foi recuperada. Se é no último terço recuperada, então a pressão funcionou e nesse contexto lá andava ele. Evandro no campo e linhas bem orientadas, pressão exemplar e bolas recuperadas. Passes simples e ponte entre as transições de saída e os últimos passes, que pertenceram a Herrera e Jackson. Ou seja, mais uma vez papel cumprido e com mestria!

A constante manteve-se e Evandro continuou o seu papel de rotação e sempre escondido.


O que te faltou?

Para mim nada. Louco e radical? Foi como comecei.

Só faltou a perspetiva - reparem em Uribe (gosto muito deste jogador). No clássico da Luz, foi muito elogiado pela comunicação social, como pêndulo de equilíbrio e “bla bla bla”.

Ora aí está.

Valorizado externa e internamente por adeptos e treinadores.

Porquê? Porque foi merecido e felizmente a opinião futebolística mudou! O olhar está no detalhe e na forma como a equipa se apresenta. Já poucos são aqueles que apenas reparam e observam a finta mais bonita e o golo mais artístico. Não fosse isso e não tínhamos Van Djik como está. Não fosse isso e o jogo de pés de um guarda-redes não era nos debates comentado. Não fosse isso e os passes “simples” de Xavi e Iniesta, não seriam também a MAGIA de um Barcelona.

Evandro, lamento teres tido a prestação certa na altura errada. Hoje serias mais lembrado e terias tido outro efeito. O jogo precisa de vós - dos que fazem uma falta no momento certo e param o jogo quando necessário. Jogam atrás para recomeçar a saída e queimam linhas com um passe de 5 metros. Virtuosos com a bola sempre haverá, de truques está o mundo cheio. Mas carecem aqueles que em segundos vêm os detalhes e, como sempre, os pormenores fazem a diferença.

Por isso, Evandro, desculpa.

Perdoa o olhar atento que ainda andava a ser treinado. Perdoa a falta de coragem de um treinador em dar-te tempo e fugir ao mediatismo dos que por muito eram contratados e tinham de jogar. Perdoa a falta de gestão estratégica. Longe vão os tempos em que a sabedoria dos grandes passava por contratar jogadores do campeonato português, sem necessidade de adaptação a um estilo, trabalhando-se a exponenciação de outras vertentes mais importantes. Agora queremos vender. Não interessa a qualidade do praticado, os negócios internos que eram a sobrevivência e plano de crescimento dos mais pequenos também não. Interessa ter os melhores números.

Mais uma vez desculpa. Tinhas o certo, mas não fomos o certo para ti.

Perdoem-me também a loucura da análise, é uma opinião e espero que a respeitando, um dia a possam perceber.

segunda-feira, 23 de setembro de 2019

"Face da mudança" - Thierry Correia


Não terá sido cedo demais?

Entre os vários laterais de origem portuguesa que começam atualmente a despoletar para o futebol - e aqui destaco Nuno Tavares -, senti-me na "obrigação" de falar sobre um outro jovem que, ainda que com necessidade de aperfeiçoamento, tem qualidade para voar em primeira classe entre as nuvens da Europa.

Em boa verdade, Thierry tem características fortes para se tornar num lateral de qualidade, mas precisará de uma boa gestão da sua vida. Não tão pessoal, mas sim por parte das entidades que tenham os seus direitos.

Thierry Rendall Correia foi um dos maiores destaques deste início de época no Sporting CP. Com um começo nervoso e para esquecer, face à goleada sofrida frente à SL Benfica, Thierry tem de agradecer a quem sempre menos demonstrou interesse na sua utilização, Marcel Keizer.

Keizer foi quem mais hesitou na integração do português na equipa principal do Sporting CP, tendo mesmo, durante a pré-época, nomeado Tiago Ilori para a posição mais recuada e à direita do terreno de jogo.

O holandês, sem resultados positivos, com base nas suas decisões, sentiu a obrigação de nomear o jovem jogador da Amadora, já que a maioria dos seus laterais direitos estavam lesionados e compreendia-se que Ilori não tinha funcionado.

Thierry foi lançado às feras na Supertaça. Perdeu pelo resultado. Mas venceu pela garra e amor à camisola, com os adeptos do clube a desejar ver mais dele.

Foi titular a partir daí. Com jogos melhores e jogos piores, mais desenvolvimento ou menos desenvolvimento, mais cansaço ou menos cansaço, o lateral saiu inesperadamente dos quadros da equipa.

Entre 4 de agosto e 31 de agosto, Thierry ganhou o seu lugar na equipa. Logo depois, foi vendido por 12M€ ao Valência FC.

De momento, nem o técnico holandês nem o defesa direito estão inseridos nos quadros leoninos.

Para ser sincero, ainda que compreenda a situação financeira atual do Sporting CP, a sua venda poderá não ter sido benéfica para ninguém. Nem para os leões, já que o seu valor de mercado terá tendência a subir, nem para o próprio jogador, que atualmente não faz parte dos habituais nomeados para os jogos dos Los Ches.

Penso que o jogador sabe que este passo não foi verdadeiramente bom, ainda que tenha dito estar «muito contente e motivado para este novo desafio».

Foi forçado, fora de tempo. Ainda estava a encontrar o lugar no clube que o viu crescer e, rapidamente, voou de Lisboa para Valência.

Por agora, tem visto os jogos em casa ou na bancada.


Previsão de Transferência: Esta recente transferência não trará, de certo, indicações para uma possível venda a título definitivo no fim da época, tão pouco no mercado de inverno.

Thierry Correia terá de se conformar com o papel que teve de viver durante o período em que esteve no clube português. 

Será um jogo de paciência até que o seu momento chegue. Contudo, para quem já viveu algo semelhante anteriormente, pode tornar-se mais frustrante.

Muito sinceramente, o que o vai colocando na esperança de um dia vir a ser convocado é mesmo a lesão do também ex-Sporting CP, Cristiano Piccini.

As duas opções viáveis para o atleta passarão pela sua manutenção na equipa, concentrando o seu trabalho nos treinos e esperando a sua oportunidade, que nunca se sabe quando chegará, ou pela sua saída a título de empréstimo no mercado de inverno.

A segunda opção parece-me ser um caminho com "luz ao fundo do túnel".

Já na época passada lançava a ideia de que podia ser um jogador muito bem aproveitado no Vitória SC, como elemento de rotação. Até agora não desfoco dessa possibilidade de se cruzar novamente com um clube português e, como referência, a equipa vimaranense. Desta vez, dar-lhe-ía um papel mais importante.

A sua predisposição física e capacidade em subir no terreno podem ser muito importantes para as equipas, que acabam por ter um sistema baseado em dinâmicas de contra-ataque fluído e, eventualmente, mais direto e pelas alas.

Ainda que estejamos no início da época, o RCD Mallorca parece necessitar de reforçar com inteligência os seus setores, para que possam fugir de um novo regresso à segunda divisão. Não só de velhas caras com experiência, mas também com juventude de qualidade.

Para isso, e com uma intenção de conquistar o maior número de minutos na La Liga, Thierry podia ser uma boa influência sobre o eixo direito da equipa de Palma de Maiorca.

Seria importante para o jogador manter o ritmo competitivo e, certamente, regressaria com outro tipo de experiência, sobretudo na primeira divisão, após o período de empréstimo.

Fico a desejar o melhor para esta pequena e tão grande promessa do futebol português.

sexta-feira, 20 de setembro de 2019

"Fim de cena" - Samuel Eto'o

Nesta edição falaremos do camaronês mais conhecido do mundo futebolístico, que anunciou ainda este mês que o seu trajeto como jogador havia chegado ao fim!

A 10 de março de 1981 nascia Samuel, Douala. Pouco se sabe sobre o seu trajeto de formação até ao momento em que chega ao Real Madrid, com cerca de 16 anos de idade.

Por ser tão jovem, não podia treinar ainda com a equipa principal e, por isso, manteve-se na equipa B, até ser emprestado várias vezes, pois a equipa estava inserida numa divisão onde não aceitavam jogadores estrangeiros.

Em 1999, o seu empréstimo no mercado de inverno ao Mallorca iria ser decisivo para deixar o clube madrileno no final da temporada, para assinar por uma verba de 4.4M€.

Esta sua segunda passagem pelo clube espanhol acabaria por lhe correr bem, ainda mais pelo gesto que teve para com os adeptos na deslocação para a final da Copa do Rei, contra o Huelva, onde doou 30 000€ em refeições, num encontro que acabaria por ser triunfante, com Eto'o a ser decisivo (dois golos num resultado a 3-0).

Saiu como o maior goleador do clube (54 golos), e ingressou o Barcelona por uma quantia de 24M€, no verão de 2004.

A sua estreia foi na abertura da nova época, frente ao Racing.

Mais tarde, o Barcelona conquistaria o título de campeão espanhol. Mas os festejos do jogador em questão foram para além dos limites, chamando nomes ao seu primeiro clube profissional de futebol. Acabou por ser multado, mas ao mesmo tempo pediu desculpas.

A sua segunda temporada superou a anterior e foi o melhor marcador da La Liga, com 26 golos, à frente de David Villa, que na altura jogava no Valência.

Na temporada seguinte, uma lesão atrasou o seu ritmo de jogo, e o regresso aos relvados tardou a chegar.

No entanto, é da sua última jornada que eu me recordarei mais, pois numa final frente ao clube inglês Manchester United, marcou o primeiro golo, terminando num 2-0 e garantindo, assim, um triplete histórico. 

Depois de um acordo para trazer Zlatan para a catalunha, Eto'o foi moeda de troca a juntar os 46M€ da transferência.

A sua estreia pelo Inter de Milão aconteceu numa derrota na supertaça italiana, com um golo do camaronês a não ser suficiente. No entanto, lutou pelas restantes competições em que o Inter se encontrava em disputa.

O primeiro troféu a ser conquistado, foi o da Taça de Itália.

Participou na sua terceira final da Liga dos Campeões e conseguiu obter um recorde ao conquistar dois títulos internos e mais um título europeu, em três anos consecutivos (2 anos no Barcelona + 1 ano no Inter).

Na época seguinte, Eto'o iria vingar-se da sua perda, na estreia pelo Inter, vencendo na supertaça frente à AS Romas por 3-1.

A partir da época 2011/12, o camaronês andou a "vaguear", no bom sentido da palavra, de clube em clube, tendo marcado presença na Rússia, em Inglaterra, novamente em Itália e terminando na Turquia.

De salientar ainda que sempre foi uma estrela na sua seleção.

Apesar dos problemas internos que ele ou outros deixavam vir ao de cima, nunca virou as costas ao seu país, participando em 118 jogos com 56 golos.

Finalizando, sempre gostei de um jogador matador na frente e Eto'o era tudo isso, mas o temperamento nunca foi o seu forte, criando muitas confusões nos balneários por onde passou (não mencionamos anteriormente, mas basta pesquisar para se perceber bem do que falo).

No entanto, nunca o vi a pôr os seus interesses pessoais à frente da sua equipa e os prémios, tanto individuais como coletivos, são referência da sua competência como jogador profissional.


Vamos ter saudades!

quinta-feira, 19 de setembro de 2019

Luís Castro preferiu o espetáculo de Liga dos Campeões. E sofreu com isso!

SHAKHTAR DONETSK vs MANCHESTER CITY
Liga dos Campeões (1ª jornada) - 18/09/2019

Em tantos jogos grandes desta semana, como o caso do Atlético de Madrid e da Juventus ou do Paris Saint-Germain e do Real Madrid, realçando ainda um surpreendente jogo de futebol feminino, entre o Sporting CP e o SC Braga, que me deixou água na boca para acompanhar mais a Liga BPI - num futuro, acredito que possa expor uma análise a um jogo da mesma divisão -, a minha decisão final submeteu-se ao encontro entre um dos melhores treinadores do mundo e um dos treinadores portugueses que mais me dá gosto ver a orientar.

Era um facto garantido que a equipa de Pep Guardiola ía ter mão sobre esta partida, demonstrando todo o seu favoritismo. Mas, como bom português (e sei que do outro lado estava Bernardo Silva e Cancelo), gosto de acreditar que os nossos, neste caso o técnico Luís Castro, serão capazes de se afirmar perante os melhores.

Tinha interesse em ver Konoplyanka a jogar de início e, obviamente, Bernardo Silva do lado inglês, mas os meus interesses começaram bem sentados no banco de suplentes.

Para além disso, sem contar, dou por mim a ver Artur Soares Dias como árbitro principal da partida.

Bem, passemos ao jogo em si, verdadeiramente.

O início do jogo prometia. A equipa de Manchester subia e os de Donetsk respondiam.

O Manchester City assumia em maior número as oportunidades no último terço adversário, mas ía tendo um Shakhtar sorrateiro com intenções de surpreender, com ligações e pormenores interessantes.

Por fim, em jogada de insistência, chega aos 24 minutos o primeiro golo da partida.

Gabriel Jesus mostrou que um ponta de lança não tem, necessariamente, que rematar à baliza e marcar golos para ser influente. O brasileiro serviu Gündoğan para um remate em jeito que embateu no poste, ressaltando para os pés do argelino Riyad Mahrez, que findou a jogada com golo.

Aos 29', Rodri viu o cartão amarelo numa falta que, numa arbitragem mais exigente, podia ter assumido outras consequências. 

Sinceramente, achei o toque do atleta um pouco duro.

No seguimento do jogo, o Shakhtar teve um lance na área do adversário que lança várias dúvidas e que dava para discussão durante horas - certamente o VAR teve as suas dificuldades na análise.

O lance era duvidoso, mas não houve qualquer falta assinalada.

Este parecia estar a ser o melhor momento dos ucranianos.

Numa jogada de belo efeito, faltou frieza ao último homem para colocar a bola fora do alcance de Ederson. Ao invés disso, a bola embateu na mancha que o guardião adversário impôs.

Posto isto, a equipa de Luís Castro rondava o empate a um golo. Contudo, o segundo golo chegaria para a equipa de Pep Guardiola, pelos pés do médio alemão.

Gündoğan marcou o golo, mas volta a ser Rodri a estar em destaque. O médio, recém chegado ao clube, inicia a jogada com um passe vertical a vinte metros, que encontrou Mahrez como destinatário. Daí, o extremo argelino partiu para dentro, numa das suas incursões habituais, rendeu o número 8 da equipa e este só teve que colocar a bola nas malhas interiores da baliza.

Gera-se a pequena dúvida, terá sido obra do médio a colocação da bola no poste menos distante da baliza ou o desequilíbrio obrigou-o a tal? 

O jogo aproximava-se do intervalo e as linhas subidas do Shakhtar começavam a gerar deficiências.

Minuto antes do intervalo, houve um momento de transição ofensiva pelo clube ucraniano, que terminou com Gabriel Jesus e Kevin De Bruyne a aproveitarem o espaço deixado no eixo defensivo, demonstrando esse buraco que se começava a criar com o desgaste físico da equipa. No fim, apenas faltou maior acerto ao remate do belga.

Foi uma situação de aflição para os comandados do português, que podem muito bem agradecer a De Bruyne por ainda estar de pé morno.

Intervalo: 0 - 2.

A segunda parte trouxe outro tipo de jogo. Não muito longe do estilo disputado no primeiro tempo, mas com outro tipo de controlo sobre as situações de jogo.

Luís Castro lançou o ucraniano Konoplyanka para os restantes 45 minutos, em substuição de Salomon.

Sinceramente, desta vez, Yevhen não trouxe nada de mais ao jogo.

A partida parecia mais controlada nas tomadas de decisão de ambas as equipas e, portanto, não havia maneira de poder esperar muito mais do jogador que entrou.

Ainda que com subidas de terreno menos constantes por parte dos visitados, o Manchester City continuava a encontrar espaços importantes nas costas dos defesas e aos 58' tiveram mesmo uma excelente oportunidade para expandir a sua vantagem na partida.

As situações continuavam a surgir para o lado inglês, já que o Shakhtar parecia recair um pouco na sua capacidade física.

Não fosse um fora de jogo milimétrico e Otamendi confirmaria a vitória inglesa ao primeiro quarto de hora da segunda parte.

O argentino ganhou coragem para um lance pouco habitual seu e, através do pontapé de bicicleta, assinou um golo que rapidamente foi anulado por posição irregular.

Diz-se que depois da tempestade vem a bonança.

Os caseiros, após um momento de menor ritmo, pareciam revitalizar-se e voltavam à carga sobre o meio campo adversário.

Infelizmente, após a tempestade, a bonança surgiu novamente para o lado visitante.

O desgaste físico do sistema de jogo apresentado pelos ucranianos teve o seu pico por esta altura, já que a própria equipa não teve capacidade para se reagrupar após a perda da bola.

Kevin De Bruyne e Gabriel Jesus assumiram o contra-ataque da equipa, novamente, mas desta vez foi o brasileiro quem assumiu a tarefa de finalizar a jogada. Como mandam as regras, Jesus largou a bola no momento certo e rente ao chão, encontrando o caminho do triunfo inglês em casa alheia.

Os últimos quinze minutos da partida não trouxeram nada mais de relevante para os quadros da partida.

Shakhtar Donetsk 0 - 3 Manchester City


SHAKHTAR DONETSK

Luís Castro é, com todo o respeito, o culpado maior desta derrota. A sua vontade de garantir um espetáculo digno de Liga dos Campeões deixou a sua equipa fragilizada no setor mais recuado do terreno.

O técnico português quis assumir o papel de campeão e esquecer de vez as diferenças entre a sua equipa e o adversário, e isso ainda lhe garantiu uma percentagem de posse de bola ao nível dos 50%.

Não desgostei da sua ideia de jogo. É mesmo devido a este tipo de atitudes que o admiro, mas acaba por nestas situações ser derrubado.

A intenção era boa: Castro queria fazer frente à equipa de Manchester sem ter que "estacionar o autocarro". Esta estratégia tinha pés e cabeça, porque os seus atletas têm também muita qualidade, mas obrigava a que os mesmos estivessem na condição física necessária para aguentarem a intensidade das suas dinâmicas.

A equipa do Shakhtar Donetsk demonstrou ter um papel de alta intensidade entre as obrigações defensivas e as transições rápidas a que já estamos habituados, que por muitas vezes foram efetuadas a dois ou três toques.

Este tipo de dinâmicas pode muito bem ser utilizado no clube ucraniano, já que conta com o experiente Taison, o Marlos, e outras referências importantes nas alas e a meio campo que podem fazer a diferença. Contudo, para um jogo frente a um adversário com um nível coletivo superior e com qualidade para assumir a mesma estratégia, a equipa do Shakhtar acaba por sentir outro tipo de dificuldades que até à altura desconhecia, provavelmente.

A maior dificuldade disto tudo chegou na segunda parte, aquando do golo de Gabriel Jesus, que demonstrou o desgaste assumido pela equipa ucraniana, ao ter abordado este sistema de jogo. Na primeira parte surgiu também uma situação semelhante ao último golo, mas Kevin De Bruyne não atingiu a baliza de Andriy Pyatov.


MANCHESTER CITY

Rodri tornou-se a minha maior referência da partida e, estranhamente, ou não, acredito que o espanhol está bem assente naquilo que Guardiola espera de um número 6: disponibilidade física, qualidade em sair a jogar e persistência. No máximo, dispersa um pouco da perfeição das intenções do técnico devido à ausência de um toque de bola mais curto.

Acho um pouco estranha a sua situação (não negativamente) porque é um jogador com um passe mais vertical e vertiginoso, o que vem ultrapassar um pouco a questão de passe curto e simples que o técnico, por exemplo, apresentava no tiki-taka de Barcelona.

Se com 23 anos já assume um papel preponderante na construção do Manchester City, imagine-se daqui a dois ou três anos.

Quanto ao jogo jogado pelo Manchester City, nada me surpreendeu.

Pep tem jogadores de enormíssima qualidade a seu dispor e, portanto, acredito que a sua maior dor de cabeça seja gerar a convocatória para os jogos da equipa.

Acredito que após a derrota frente ao Norwich a exigência de Guardiola tenha sido máxima, e por isso este jogo tornou-os mais favoritos, pela força emocional.

Se houvesse algo a repensar nesta equipa do espanhol, talvez passasse pelo futuro do eixo centro-defensivo da equipa.


Sou da opinião que Portugal tem um bom, se não excelente, leque de treinadores.

Podia ser chamado de louco quando cruzo a ideia que o futebol português pode ser, também, uma referência do tão desejado "Quinto Império" que tanto Luís Vaz de Camões como Fernando Pessoa previam para Portugal.

 Até à próxima jornada,
FL 

segunda-feira, 16 de setembro de 2019

"Face da mudança" - Fábio Martins


O início desta semana não devia ser assim. Mas, face ao momento do FC Famalicão, senti-me na obrigação de destacar um dos maiores motores deste sucesso da equipa.

Bem conhecido pelos portugueses, pelas suas passagens noutros clubes, Fábio Martins é o destaque da quinta edição de “Face da mudança”.

Não é um novato do futebol. Em boa verdade, já leva muitos anos de futebol português e já conhece, praticamente, os cantos todos do norte do país.

Já lhe passou pelo coração o gosto de ser avense, castor e transmontano, e cabe-lhe há muito o papel de guerreiro. Mas foi como tripeiro que se iniciou, pelas mãos do FC Porto, em 2000, e só largou o clube após a primeira época como sénior, que findou com 29 jogos e 2 golos pelos «bês».

Na atualidade, o coração palpita pelo povo famalicense, e com o gosto que tem dado ao pé, pode muito bem estar a apaixonar-se verdadeiramente, já que também os objetivos do clube estão a ser ultrapassados de forma louca.

A vida enquanto promessa portuguesa já passou. Neste momento, os seus 26 anos só podem garantir aquilo que ninguém viu quando o deviam ter feito. Mas não deixa de poder vir a ter o momento de chamar a atenção de clubes de maior dimensão.

Não, não falo de Barcelona, Real Madrid, Liverpool ou outros gigantes do mundo. Falo sim de uma realidade sincera para um atleta que ainda pode ter, pelo menos, sete anos de futebol a nível elevado.

O seu contrato continua nas mãos do SC Braga, mas acredito que a qualquer momento haverá uma troca de papéis para um outro clube que lhe possa garantir outro tipo de oportunidades e, de preferência, que o deixe encontrar casa fixa.

Fábio Martins é um extremo esquerdo com qualidades que encaixam de forma perfeita no meu gosto pessoal, que é também, a meu ver, o gosto de um treinador que quer ter bola, que pretende jogar com as linhas subidas, podendo assumir a metade do campo adversário, e com dinâmicas rápidas.

O português não é verdadeiramente rápido, mas dá que pensar no conceito de “falso lento” quando se destaca a sua qualidade.

Na forma como pensa o jogo, é mais rápido com a cabeça do que com o corpo, e aproveita a sua agilidade para se tornar imprevisível, sobretudo nas situações de um para um.

Na base das suas melhores qualidades, tem que se destacar a facilidade com que pode desbloquear um jogo. Para o jogo jogado, usufrui dos seus atributos formatados para extremo, de acordo com o que o treinador lhe pede, nomeadamente: dar largura à ala, acompanhar a jogada ofensiva em situações de superioridade e partir para o um para um, quando assim for necessário. Já frente a um adversário mais recolhido no seu meio campo, Fábio é um extremo que pode muito facilmente ter características de avançado interior – e até lhe atribuiria melhor esse papel –, com uma qualidade de remate de longe bem acima da média, no que toca à nossa Liga NOS, que pode assim desbloquear uma defesa mais complicada de atravessar.

O pior papel que lhe pode mesmo ser atribuído é o do processo defensivo, onde existem algumas arestas a lapidar, mas que certamente o jogador vai trabalhando em seu benefício.


Previsão de transferência: Como disse, obviamente não se espera que aos 26 anos o atleta encontre o caminho de sonho de qualquer jogador e miúdo que queira ser jogador de futebol, jogando num clube de topo mundial.

Ainda assim, existe um clube de nível superior na Europa que podia muito bem colocar Fábio Martins nos seus quadros.

Falo claramente da Olympiacos FC, onde muitos outros jogadores portugueses ou conhecidos do futebol português, se assumiram e ajudaram ao sucesso da equipa grega, que tem uma forte influência no campeonato e demonstra-se bastante assídua na maior prova da Europa.

Esta situação de transferência seria positiva no seu currículo, mas também poderia trazer um reverso naquilo que podem ser os seus objetivos pessoais e profissionais.

A Olympiacos FC seria a grande oportunidade para o extremo rechear o seu palmarés, dado que o clube se apresenta sempre como um dos maiores favoritos a triunfar nas provas domésticas. Para além disso, a habitual presença do clube grego na Liga dos Campeões promoveria a Fábio Martins a oportunidade de se mostrar nos maiores palcos europeus.

Em contradição a todos os fatores positivos da sua deslocação para a Grécia, o português teria que se consciencializar que, no clube em destaque, se torna difícil promover para um outro grande europeu – são poucas as situações em que um atleta consegue promover-se da Olympiacos FC para um outro grande, tendo-se já assistido também a situações em que o jogador acaba por regressar a Portugal, para um clube de meio da tabela ou até de posição inferior.

Sair de Portugal pode, muitas vezes, ser o pior cenário para um jogador português, e não é isso que pretendemos ver para Fábio Martins.

Gostava que fosse, finalmente, assumido o seu lugar no SC Braga, mas torna-se muito difícil conquistar a posição quando o seu maior “adversário” é Ricardo Horta.

Quem sabe, se o futuro não passará pelo SC Braga, novamente, ou um outro clube português de nível europeu; talvez um outro candidato a campeão noutra liga europeia, ao nível grego, croata ou mesmo turco.

Por agora, prefiro que desfrute do seu momento e consiga ser um dos maiores destaques desta época do FC Famalicão, que promete ser bastante positiva.

quinta-feira, 12 de setembro de 2019

"O que te faltou?" - Yevhen Konoplyanka


Quinta-feira, 7 de novembro de 2013, 18:00.

Depois de uma típica tarde de estudo de aluno do secundário, eis que chegava a hora do futebol.

Às 17:45, livros arrumados, televisão ligada e ouvidos atentos.

Não tarda, as equipas iriam entrar em campo para fazer a bola rolar. Um nome vinha sempre à baila: “Atenção a Konoplyanka”. Apresentava-se como maior figura de um Dnipro, que na altura defrontava a sensação portuguesa Paços de Ferreira, e aparentemente tinha marcado um golo no duelo anterior entre estes, na primeira volta da fase de grupos da Liga Europa.

Motivado pela esperança de um bom resultado desse tão atípico Paços, decidi ver o jogo.

Um jogo desinteressante, dizia o meu pai. Mas era o contingente português, em canal aberto!

Atentei nesse ucraniano e lá andava ele a procurar a bola: partia da ala esquerda, bola colada ao pé e cabeça levantada, à procura do melhor colega que podia isolar. Sempre muito vertical, só olhava a soluções no último terço e encantava sempre com a facilidade com que tratava a bola. Era dotado!

Ao intervalo, 1-0 para o Dnipro.

Minuto 66, Konoplyanka com espaço na ala esquerda, vem para dentro, dribla dois jogadores e coloca a bola no poste mais distante, embatendo ainda neste e tendo abalado as redes (2-0).
Resultado feito e um nome que ficava na retina.

Para mim era jogador e já merecia novos voos. Era jogador para se afirmar nas grandes ligas europeias e, certamente, existiram propostas, mas decidiu ficar e continuar como maestro nesta equipa ucraniana.

No ano seguinte, o Dnipro esteve na Liga europa e surpreendentemente chegou à final, deixando pelo caminho Olympiacos, Ajax, Brugge e Nápoles.

Defrontava agora o detentor do troféu, Sevilla, que apostava na reconquista, que se esperava fácil. Mas não foi bem assim.

Kalinic abre o marcador aos 7 minutos. Aos 28’ Krychowiak empata, levando a resposta aos 44’ por parte de Ruslan. A partir daí, dois golos do fantástico Carlos Bacca fecham o marcador.

Jogo difícil mas resolvido, e a taça segue para a Andaluzia.

No entanto, um outro jogador destacou-se. Não marcou nem assistiu, mas se o Dnipro foi a equipa mais defensiva, com bola teve o jogador mais desequilibrador de ambas as equipas. Número 10 nas costas e lá corria ele, Yevhen Konoplyanka.

Todos os ataques tinham o seu carimbo e, como referência, grande parte eram por ele inicialmente construídos. Bola no pé, arrancada, um ou dois jogadores para trás e passe, bola no companheiro da frente. Simples e eficaz, como se quer. Um ataque fluído, por um jogador, com toda a classe esperada.

A Ucrânia voltava a ter um mago, desde os tempos de Shevchenko. Não marcava tanto, mas certamente iria dar a marcar muito mais e o legado parecia estar bem entregue.

O que te faltou?

Valeu-lhe a transferência para Andaluzia onde, num futebol aberto e de rasgos, se esperava que a fanática torcida do Sanchez Pizjuan fosse capaz de o empolgar a números de craque, mas em 52 jogos apenas obteve 8 golos e 9 assistências. Uma regularidade exibicional, muito aquém do esperado, resultou num empréstimo ao Shalke 04.

Os mineiros alemães, que ainda procuram o regresso aos tempos áureos, acolheram este talento ucraniano, correspondendo a uma boa oportunidade de negócio. Um empréstimo, opção de compra futura e um jogador capaz de fazer chegar a bola com a rapidez e qualidade necessária ao último terço do terreno, deixando nos avançados o papel de encostar.

Num futebol vertiginoso, caracterizado por rasgos e constantes transições, esta seria uma ótima peça para a transição ofensiva. O seu físico permitia-lhe aguentar muitos choques e o talento traria o resto. Via assim esta como a derradeira oportunidade para que Konoplyanka se pudesse valorizar e afirmar como figura de um bom clube europeu, levando no seu passaporte um espaço em branco, para uma futura viagem rumo a um gigante.

Perspetivava uma luta entre os dois senhores da Alemanha (Bayern e Dortmund) para a sua contratação e, futuramente, um fanatismo de Florentino ou um sheik qualquer, que o levaria a um grande nível europeu e a uma estabilidade financeira que todos sonhamos.

Mas não foi regular.

Mostrou a sua qualidade e os dirigentes continuavam crentes como eu. Foram 17 jogos, 1 golo e 1 assistência e o virtuoso de leste assinava com os blues de Gelsenkirchen.

Não há duas sem três, ou até quatro. Mais duas épocas  na Bundesliga e afigurava-se o mesmo: muito talento, amigo da bola, mas pouco decisivo, resumindo-se nas estatísticas de duas épocas com 51 jogos, 7 golos e 7 assistências. (Messi e Ronaldo devem ter feito mais golos numa época que Konoplyanka jogos).

«O bom filho a boa casa torna».

Konoplyanka está de volta à Ucrânia, pelas mãos do professor Castro.

Luís Castro reforçou o seu Shakhtar, com um natural que outrora se havia afirmado no mesmo campeonato.

Estará Konoplyanka pronto para assumir novos papéis? Num estilo do português, vincado pela qualidade de posse de bola e a paciência na chegada ao último terço, estará aqui a fotocópia a papel químico de Krovinovic nos seus tempos em Vila do Conde?

Estou novamente disposto a sonhar… Esperando que este mago não traga muitos problemas a Portugal, mas que um dia imponha a sua qualidade em campo!

São estes predestinados a razão de todos os dias ligarmos a televisão e sentarmo-nos à hora certa para mais um jogo.

Ele merece os grandes campos europeus. E eu? Eu mereço chegar de um dia de trabalho e, agora crescido, abrir a minha cerveja e de novo espantar-me, como naquele dia 7 de setembro.

Assim espero Yevhen!

segunda-feira, 9 de setembro de 2019

"Fim de cena" - Fernando "El Niño" Torres


Mais um anúncio triste para o mundo do futebol, que nos leva a falar sobre o fim de cena de El Niño, sendo um dos maiores abandonos ao desporto rei, na minha opinião.

Nasceu em Fuenlabrada, uma cidade de Madrid, e como qualquer criança, interessou-se pelo futebol a partir dos 5 anos de idade, tendo sido a série japonesa do Captain Tsubasa o motivo dessa aventura.

Na verdade, o desejo de ser guarda-redes nessa época era muito mas, após quebrar alguns dentes, sua mãe sugeriu que seguisse os passos do seu irmão (avançado) ou que desistisse do futebol.

Para não perder esse interesse, subiu no terreno e jogou regularmente no clube do seu bairro, Mario’s Holland. Com 11 anos de idade, impressionou olheiros e o Atlético de Madrid inseriu-o nas suas camadas jovens, em 1995.

Nos sub15, Torres já se destacava comparativamente aos seus colegas, e foi em 1999 que assinou o seu primeiro contrato profissional com o clube do coração.

A estreia pela equipa principal foi aos 16 anos, mas antes desse momento chegar, sofreu uma lesão grave que o manteve de fora até Dezembro de 2000.

Foi então que finalmente entrou em palco, no Vicente Calderón, frente ao Leganés, a 27 de Maio de 2001, e, na semana seguinte, já fazia abanar as redes adversárias, mas o Atlético haveria de descer de divisão.

No ano seguinte, o clube madrileno vencia a segunda liga, retornando à La Liga, e a cada ano que passava Fernando aumentava o número de golos, sendo um destaque aos 19 anos não só pelos seus 19 golos em 35 partidas disputadas, como também por ser nomeado como capitão do seu clube de infância!

Na época 2005/2006, o Atlético já ouvia propostas de Chelsea e Newcastle, sendo que o Liverpool se juntou à corrida, após a participação do jovem jogador espanhol no Mundial 2006.

No dia 4 de Julho, a transferência concluiu-se e a sua despedida perante os adeptos foi realizada. Por uma verba de 36M€ (o valor mais alto da história, até à data), o Liverpool arriscou as fichas neste jovem e estreou-se frente ao Aston Villa, a 11 de Agosto de 2007.

Nesta sua primeira época no clube, Torres fez história na Premier League. Foi o goleador de serviço, com 24 golos, quebrando o recorde do jogador estrangeiro a marcar mais golos na primeira época, que pertencia a Van Nistelrooy.

Mesmo com uma renovação, o espanhol estava insatisfeito no clube e mudou de ares.

Deixou de ser um Red, totalizando 142 jogos e 81 golos, e mudou-se para os Blues, mais conhecido por Chelsea, no último dia do mercado, a 31 de Janeiro de 2011, por uma quantia de 58M€.

A sua vida com os golos nunca esteve tão difícil, e mesmo com 13 jogos consecutivos sem descobrir esse sabor, ele manteve-se focado e nunca desistiu de os procurar. Conquistou uma Champions League e a Copa de Inglaterra na época 11/12, salvando assim as dúvidas sobre as suas performances.

Com a saída de Didier Drogba, Fernando Torres assumiu-se na equipa e aproveitou o arranque da nova temporada para conquistar a Supertaça Europeia. No entanto, sempre que algo de negativo acontecia, ele era o culpado. No final da taça mundial de clubes, as oportunidades claras de golo foram desperdiçadas por El Niño.

No entanto, iria redimir-se, sendo o maior goleador da Liga Europa, sagrando-se pela primeira vez campeão com o clube nesta competição.

Foi emprestado ao AC Milan, onde meses depois rescindiu com o clube de Inglaterra e ficou definitivamente em Milão.

No entanto, o que mais me recordo foi o seu regresso a casa.

No dia 29 de Dezembro de 2014, novamente por empréstimo, foi recebido por 45.000 adeptos, agradecendo a alto e bom som a todos os que tornaram isto possível.

A sua estreia seria frente ao rival da capital, jogo a contar para a Copa do Rei, onde o próprio seria fundamental na eliminação do adversário, com um golo, terminando em 2-1.

Com a saída de Mandzukic e a claque satisfeita com o seu desempenho, o espanhol formou dupla com o francês Griezmann, colocando o Atlético na final da Champions, em 2016.

Passados os dois anos de empréstimo, o clube contratou-o a título definitivo por uma época, mas uma lesão chegaria para o atormentar. Ainda assim, o pior cenário não surgiu, podendo jogar livremente futebol.

No dia 21 de Maio de 2018, o jogador fez a sua última partida pelo Atlético de Madrid, marcando dois golos, frente ao Eibar. E quase um mês depois, foi anunciado no Sagan Tosu, clube japonês.

Com esta transferência, seria de esperar que a sua rota estaria a chegar ao fim, e foi mesmo em Agosto deste ano que El Niño pendurou as botas, para sempre!

A seleção espanhola ganhou muito com este jogador, que lhes garantiu golos e títulos na sua hegemonia europeia e mundial. Juntos conquistaram o Europeu de 2008, o de 2012 e o Mundial de 2010, ainda que, na última conquista, tenha sido menos utilizado devido à sua lesão, semanas antes da competição começar.

Com 110 internacionalizações e 38 golos pela seleção, considero este jogador um dos fortes pilares desse início de ouro espanhol, por ser temível nos últimos 30 metros. Quando a sua confiança estava no auge, nada o travava.

Poucos podem recordá-lo pelos falhanços no seu declínio na carreira profissional, mas eu sempre lembrarei de como ele era apaixonado pelo jogo e pelo seu clube do coração, onde nunca deixou ninguém “morrer na praia”, procurando contribuir para o sucesso do clube madrileno.

Vai deixar saudades!