quinta-feira, 12 de setembro de 2019

"O que te faltou?" - Yevhen Konoplyanka


Quinta-feira, 7 de novembro de 2013, 18:00.

Depois de uma típica tarde de estudo de aluno do secundário, eis que chegava a hora do futebol.

Às 17:45, livros arrumados, televisão ligada e ouvidos atentos.

Não tarda, as equipas iriam entrar em campo para fazer a bola rolar. Um nome vinha sempre à baila: “Atenção a Konoplyanka”. Apresentava-se como maior figura de um Dnipro, que na altura defrontava a sensação portuguesa Paços de Ferreira, e aparentemente tinha marcado um golo no duelo anterior entre estes, na primeira volta da fase de grupos da Liga Europa.

Motivado pela esperança de um bom resultado desse tão atípico Paços, decidi ver o jogo.

Um jogo desinteressante, dizia o meu pai. Mas era o contingente português, em canal aberto!

Atentei nesse ucraniano e lá andava ele a procurar a bola: partia da ala esquerda, bola colada ao pé e cabeça levantada, à procura do melhor colega que podia isolar. Sempre muito vertical, só olhava a soluções no último terço e encantava sempre com a facilidade com que tratava a bola. Era dotado!

Ao intervalo, 1-0 para o Dnipro.

Minuto 66, Konoplyanka com espaço na ala esquerda, vem para dentro, dribla dois jogadores e coloca a bola no poste mais distante, embatendo ainda neste e tendo abalado as redes (2-0).
Resultado feito e um nome que ficava na retina.

Para mim era jogador e já merecia novos voos. Era jogador para se afirmar nas grandes ligas europeias e, certamente, existiram propostas, mas decidiu ficar e continuar como maestro nesta equipa ucraniana.

No ano seguinte, o Dnipro esteve na Liga europa e surpreendentemente chegou à final, deixando pelo caminho Olympiacos, Ajax, Brugge e Nápoles.

Defrontava agora o detentor do troféu, Sevilla, que apostava na reconquista, que se esperava fácil. Mas não foi bem assim.

Kalinic abre o marcador aos 7 minutos. Aos 28’ Krychowiak empata, levando a resposta aos 44’ por parte de Ruslan. A partir daí, dois golos do fantástico Carlos Bacca fecham o marcador.

Jogo difícil mas resolvido, e a taça segue para a Andaluzia.

No entanto, um outro jogador destacou-se. Não marcou nem assistiu, mas se o Dnipro foi a equipa mais defensiva, com bola teve o jogador mais desequilibrador de ambas as equipas. Número 10 nas costas e lá corria ele, Yevhen Konoplyanka.

Todos os ataques tinham o seu carimbo e, como referência, grande parte eram por ele inicialmente construídos. Bola no pé, arrancada, um ou dois jogadores para trás e passe, bola no companheiro da frente. Simples e eficaz, como se quer. Um ataque fluído, por um jogador, com toda a classe esperada.

A Ucrânia voltava a ter um mago, desde os tempos de Shevchenko. Não marcava tanto, mas certamente iria dar a marcar muito mais e o legado parecia estar bem entregue.

O que te faltou?

Valeu-lhe a transferência para Andaluzia onde, num futebol aberto e de rasgos, se esperava que a fanática torcida do Sanchez Pizjuan fosse capaz de o empolgar a números de craque, mas em 52 jogos apenas obteve 8 golos e 9 assistências. Uma regularidade exibicional, muito aquém do esperado, resultou num empréstimo ao Shalke 04.

Os mineiros alemães, que ainda procuram o regresso aos tempos áureos, acolheram este talento ucraniano, correspondendo a uma boa oportunidade de negócio. Um empréstimo, opção de compra futura e um jogador capaz de fazer chegar a bola com a rapidez e qualidade necessária ao último terço do terreno, deixando nos avançados o papel de encostar.

Num futebol vertiginoso, caracterizado por rasgos e constantes transições, esta seria uma ótima peça para a transição ofensiva. O seu físico permitia-lhe aguentar muitos choques e o talento traria o resto. Via assim esta como a derradeira oportunidade para que Konoplyanka se pudesse valorizar e afirmar como figura de um bom clube europeu, levando no seu passaporte um espaço em branco, para uma futura viagem rumo a um gigante.

Perspetivava uma luta entre os dois senhores da Alemanha (Bayern e Dortmund) para a sua contratação e, futuramente, um fanatismo de Florentino ou um sheik qualquer, que o levaria a um grande nível europeu e a uma estabilidade financeira que todos sonhamos.

Mas não foi regular.

Mostrou a sua qualidade e os dirigentes continuavam crentes como eu. Foram 17 jogos, 1 golo e 1 assistência e o virtuoso de leste assinava com os blues de Gelsenkirchen.

Não há duas sem três, ou até quatro. Mais duas épocas  na Bundesliga e afigurava-se o mesmo: muito talento, amigo da bola, mas pouco decisivo, resumindo-se nas estatísticas de duas épocas com 51 jogos, 7 golos e 7 assistências. (Messi e Ronaldo devem ter feito mais golos numa época que Konoplyanka jogos).

«O bom filho a boa casa torna».

Konoplyanka está de volta à Ucrânia, pelas mãos do professor Castro.

Luís Castro reforçou o seu Shakhtar, com um natural que outrora se havia afirmado no mesmo campeonato.

Estará Konoplyanka pronto para assumir novos papéis? Num estilo do português, vincado pela qualidade de posse de bola e a paciência na chegada ao último terço, estará aqui a fotocópia a papel químico de Krovinovic nos seus tempos em Vila do Conde?

Estou novamente disposto a sonhar… Esperando que este mago não traga muitos problemas a Portugal, mas que um dia imponha a sua qualidade em campo!

São estes predestinados a razão de todos os dias ligarmos a televisão e sentarmo-nos à hora certa para mais um jogo.

Ele merece os grandes campos europeus. E eu? Eu mereço chegar de um dia de trabalho e, agora crescido, abrir a minha cerveja e de novo espantar-me, como naquele dia 7 de setembro.

Assim espero Yevhen!

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