Quinta-feira, 7 de novembro de 2013, 18:00.
Depois de uma típica tarde de estudo de aluno do secundário,
eis que chegava a hora do futebol.
Às 17:45, livros arrumados, televisão ligada e ouvidos
atentos.
Não tarda, as equipas iriam entrar em campo para fazer a
bola rolar. Um nome vinha sempre à baila: “Atenção a Konoplyanka”.
Apresentava-se como maior figura de um Dnipro, que na altura defrontava a
sensação portuguesa Paços de Ferreira, e aparentemente tinha marcado um golo no
duelo anterior entre estes, na primeira volta da fase de grupos da Liga Europa.
Motivado pela esperança de um bom resultado desse tão
atípico Paços, decidi ver o jogo.
Um jogo desinteressante, dizia o meu pai. Mas era o
contingente português, em canal aberto!
Atentei nesse ucraniano e lá andava ele a procurar a bola:
partia da ala esquerda, bola colada ao pé e cabeça levantada, à procura do
melhor colega que podia isolar. Sempre muito vertical, só olhava a soluções no
último terço e encantava sempre com a facilidade com que tratava a bola. Era
dotado!
Ao intervalo, 1-0 para o Dnipro.
Minuto 66, Konoplyanka com espaço na ala esquerda, vem para
dentro, dribla dois jogadores e coloca a bola no poste mais distante, embatendo
ainda neste e tendo abalado as redes (2-0).
Resultado feito e um nome que ficava na retina.
Para mim era jogador e já merecia novos voos. Era jogador
para se afirmar nas grandes ligas europeias e, certamente, existiram propostas,
mas decidiu ficar e continuar como maestro nesta equipa ucraniana.
No ano seguinte, o Dnipro esteve na Liga europa e
surpreendentemente chegou à final, deixando pelo caminho Olympiacos, Ajax,
Brugge e Nápoles.
Defrontava agora o detentor do troféu, Sevilla, que apostava
na reconquista, que se esperava fácil. Mas não foi bem assim.
Kalinic abre o marcador aos 7 minutos. Aos 28’ Krychowiak
empata, levando a resposta aos 44’ por parte de Ruslan. A partir daí, dois
golos do fantástico Carlos Bacca fecham o marcador.
Jogo difícil mas resolvido, e a taça segue para a Andaluzia.
No entanto, um outro jogador destacou-se. Não marcou nem
assistiu, mas se o Dnipro foi a equipa mais defensiva, com bola teve o jogador
mais desequilibrador de ambas as equipas. Número 10 nas costas e lá corria ele,
Yevhen Konoplyanka.
Todos os ataques tinham o seu carimbo e, como referência,
grande parte eram por ele inicialmente construídos. Bola no pé, arrancada, um
ou dois jogadores para trás e passe, bola no companheiro da frente. Simples e
eficaz, como se quer. Um ataque fluído, por um jogador, com toda a classe
esperada.
A Ucrânia voltava a ter um mago, desde os tempos de
Shevchenko. Não marcava tanto, mas certamente iria dar a marcar muito mais e o
legado parecia estar bem entregue.
O que te faltou?
O que te faltou?
Valeu-lhe a transferência para Andaluzia onde, num futebol aberto
e de rasgos, se esperava que a fanática torcida do Sanchez Pizjuan fosse capaz de
o empolgar a números de craque, mas em 52 jogos apenas obteve 8 golos e 9
assistências. Uma regularidade exibicional, muito aquém do esperado, resultou
num empréstimo ao Shalke 04.
Os mineiros alemães, que ainda procuram o regresso aos
tempos áureos, acolheram este talento ucraniano, correspondendo a uma boa
oportunidade de negócio. Um empréstimo, opção de compra futura e um jogador capaz
de fazer chegar a bola com a rapidez e qualidade necessária ao último terço do
terreno, deixando nos avançados o papel de encostar.
Num futebol vertiginoso, caracterizado por rasgos e
constantes transições, esta seria uma ótima peça para a transição ofensiva. O
seu físico permitia-lhe aguentar muitos choques e o talento traria o resto. Via
assim esta como a derradeira oportunidade para que Konoplyanka se pudesse
valorizar e afirmar como figura de um bom clube europeu, levando no seu passaporte
um espaço em branco, para uma futura viagem rumo a um gigante.
Perspetivava uma luta entre os dois senhores da Alemanha
(Bayern e Dortmund) para a sua contratação e, futuramente, um fanatismo de
Florentino ou um sheik qualquer, que o levaria a um grande nível europeu e a
uma estabilidade financeira que todos sonhamos.
Mas não foi regular.
Mostrou a sua qualidade e os dirigentes continuavam crentes
como eu. Foram 17 jogos, 1 golo e 1 assistência e o virtuoso de leste assinava
com os blues de Gelsenkirchen.
Não há duas sem três, ou até quatro. Mais duas épocas na Bundesliga e afigurava-se o mesmo: muito
talento, amigo da bola, mas pouco decisivo, resumindo-se nas estatísticas de
duas épocas com 51 jogos, 7 golos e 7 assistências. (Messi e Ronaldo devem ter
feito mais golos numa época que Konoplyanka jogos).
«O bom filho a boa casa torna».
Konoplyanka está de volta à Ucrânia, pelas mãos do professor
Castro.
Luís Castro reforçou o seu Shakhtar, com um natural que
outrora se havia afirmado no mesmo campeonato.
Estará Konoplyanka pronto para assumir novos papéis? Num
estilo do português, vincado pela qualidade de posse de bola e a paciência na
chegada ao último terço, estará aqui a fotocópia a papel químico de Krovinovic
nos seus tempos em Vila do Conde?
Estou novamente disposto a sonhar… Esperando que este mago
não traga muitos problemas a Portugal, mas que um dia imponha a sua qualidade
em campo!
São estes predestinados a razão de todos os dias ligarmos a
televisão e sentarmo-nos à hora certa para mais um jogo.
Ele merece os grandes campos europeus. E eu? Eu mereço
chegar de um dia de trabalho e, agora crescido, abrir a minha cerveja e de novo
espantar-me, como naquele dia 7 de setembro.
Assim espero Yevhen!


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