Evandro Goebel, de nacionalidade brasileira e sérvia
(desconhecia esta possibilidade), centro-campista, com passagens por Estoril de
Praia (16 golos, 10 assistências), FC Porto (6 golos, 2 assistências), Estrela
Vermelha (16 golos, 12 assistências), Hull City (5 golos, 4 assistências) e
clubes brasileiros, entre eles o Santos, onde ainda hoje faz parte do plantel.
Cumpriu, até agora, 326 jogos onde faturou 48 golos e
proporcionou 38 assistências. Para médio, bons números. Participou na Liga
Europa e Liga dos Campeões, o que só por si já deixa ciumentos muitos outros canarinhos
com o sonho europeu.
Ficam as estatísticas. Assunto resolvido, vamos ao que
interessa.
Assim como o golo nos apaixona neste jogo, espero que sejam
estes os motivos que vos prendam à leitura.
- “Porquê ele?” – questionam eles.
- “Parece insensato?” – pergunto eu.
- “SIM!” – respondem eles, afirmativamente.
- “Então deixem-me explicar.” – respondo eu, seguro
de mim.
Fez-se silêncio, tenho a vossa atenção e serei agora testado.
Venha isso!
Na época 2012/2013, se bem se lembram, o Estoril de Praia conseguiu
(com muita injeção financeira de capital canarinho) o apuramento para a Liga
Europa, fazendo história e juntando-se ao Paços de Ferreira, naquilo que seria uma época
estranha do futebol português.
O futebol era bom e destacado, com exibições sorridentes,
sendo bem praticado. Esse que era correspondido pelos golos de Steven Vitória
(sim, um defesa melhor marcador) e Luís Leal (sosseguem, este já era avançado),
passando assim do bonito ao eficaz.
Destacavam-se os golos, os dribles de Licá e Carlitos, a
definição e irreverência de Carlos Eduardo, a profundidade de Jefferson e a
muralha que era Steven Vitória e Yohan Tavares. Quase todos estes haviam de
chegar a um grande, acompanhados por mais um - Evandro.
No papel de 8, era mestre da ligação entre um 6 (trinco),
Diogo Amado, e o distribuidor de último terço, 10 moderno, Carlos Eduardo.
Permitia queimar linhas, sair de situações com bola controlada e, mesmo assim,
segurar defensivamente uma segunda linha de pressão, descansando Carlos para
tarefas ofensivas. Um despercebido do qual Marco Silva nunca abdicava. É assim
a norma: quem fala e é capa nos jornais, no balneário é segundo plano. E os
tímidos, aos olhares dos espectadores, afirmam-se entre as quatro paredes e
consideração dos colegas. Até porque só assim vingam!
Certamente, os centrais
quando levantavam a cabeça já procuravam Evandro e bastava-lhe movimentar-se,
pois sabia que a bola vinha e depois estava entregue à sua arte.
Confiante, distribuía e, na transição defensiva, definia
momentos de pressão ou contenção. Esqueçam a braçadeira… São estas as
referências. Um passo deles é ordem para a equipa e assim os grandes jogadores
destacam-se.
Chamava a atenção para este médio, que já aparecia com idade
avançada para chegar ao top do top. Com o aviso parecia louco e no início deste
texto também vos pareço. Mas sem receio, é só mais uma humilde opinião de um
rapaz que gosta tanto do desporto rei como qualquer um de vós.
Mas a timidez chegou à capa, fazendo o que fazia melhor!
Não falou, destacou-se em campo. No dia 23 de Fevereiro de
2014, agora uma época depois, numa exibição pobre do FC Porto no Estádio do
Dragão, a invencibilidade caseira de 5 anos era derrubada por um penálti de
Evandro.
E ali, mesmo à frente do acontecimento, eu dizia ao meu
amigo, “Agora será jogador”.
Teve o impulso necessário e vir-se-ía a transferir para o
conjunto azul e branco, num ano de transferências atípicas, ao leme de
Lopetegui. Dos muitos milhões gastos, este foi uma pechincha! Pelo menos assim
achava…
Nunca se conseguiu afirmar e num papel de rotação nunca foi
muitas vezes usado a titular. Mas enquanto jogava cumpria e passava
despercebido, o que por si só é sinal de competência.
Naquela posição, não se fazer notar é não errar. É fazer o
que é pedido, ajudando a equipa, mantendo a pressão adequada e ser solução
intermédia na criação e, mesmo sem definir, ser decisivo. Não para os milhares
que se sentam na bancada, mas para as unidades que se sentam no banco.
Lembro-me em especial de um jogo: 23ª jornada da liga Portuguesa da época 2014/2015. Dia de
clássico. O dragão era palco de mais um jogo entre azuis e verdes, ambos
acompanhados de branco.
O rescaldo do jogo é simples, 3-0.
Sporting muito fraco a controlar a profundidade e a velocidade
de Tello, exemplarmente assistido por Jackson, define o jogo. Hat-trick e nas
capas de jornal falava-se castelhano. Simples, fácil e não deveria haver mais
discussão. Era um hat-trick!
Mas um olhar atento a isso não permite.
Se há oportunidade de construir é porque a bola foi
recuperada. Se é no último terço recuperada, então a pressão funcionou e nesse
contexto lá andava ele. Evandro no campo e linhas bem orientadas, pressão
exemplar e bolas recuperadas. Passes simples e ponte entre as transições de saída
e os últimos passes, que pertenceram a Herrera e Jackson. Ou seja, mais uma vez
papel cumprido e com mestria!
A constante manteve-se e Evandro continuou o seu papel de
rotação e sempre escondido.
O que te faltou?
Para mim nada. Louco e radical? Foi como comecei.
Só faltou a perspetiva - reparem em Uribe (gosto muito deste
jogador). No clássico da Luz, foi muito elogiado pela comunicação social, como
pêndulo de equilíbrio e “bla bla bla”.
Ora aí está.
Valorizado externa e internamente por adeptos e treinadores.
Porquê? Porque foi merecido e felizmente a opinião
futebolística mudou! O olhar está no detalhe e na forma como a equipa se
apresenta. Já poucos são aqueles que apenas reparam e observam a finta mais
bonita e o golo mais artístico. Não fosse isso e não tínhamos Van Djik como
está. Não fosse isso e o jogo de pés de um guarda-redes não era nos debates comentado.
Não fosse isso e os passes “simples” de Xavi e Iniesta, não seriam também a
MAGIA de um Barcelona.
Evandro, lamento teres tido a prestação certa na altura
errada. Hoje serias mais lembrado e terias tido outro efeito. O jogo precisa de
vós - dos que fazem uma falta no momento certo e param o jogo quando necessário.
Jogam atrás para recomeçar a saída e queimam linhas com um passe de 5 metros.
Virtuosos com a bola sempre haverá, de truques está o mundo cheio. Mas carecem
aqueles que em segundos vêm os detalhes e, como sempre, os pormenores fazem a
diferença.
Por isso, Evandro, desculpa.
Perdoa o olhar atento que ainda andava a ser treinado.
Perdoa a falta de coragem de um treinador em dar-te tempo e fugir ao mediatismo
dos que por muito eram contratados e tinham de jogar. Perdoa a falta de gestão
estratégica. Longe vão os tempos em que a sabedoria dos grandes passava por
contratar jogadores do campeonato português, sem necessidade de adaptação a um
estilo, trabalhando-se a exponenciação de outras vertentes mais importantes.
Agora queremos vender. Não interessa a qualidade do praticado, os negócios
internos que eram a sobrevivência e plano de crescimento dos mais pequenos
também não. Interessa ter os melhores números.
Mais uma vez desculpa. Tinhas o certo, mas não fomos o certo
para ti.
Perdoem-me também a loucura da análise, é uma opinião e
espero que a respeitando, um dia a possam perceber.

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